tag:blogger.com,1999:blog-77334197820868000132024-03-05T02:53:18.438-03:00MITOLOGIA E PSICANÁLISE
As narrativas mitológicas nos ajudam a vivenciar o sagrado e a entrar em contato com nosso ser interior.
"Os deuses são potências inconscientes." (C.G.Jung)
Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.comBlogger44125tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-30666671829079771392018-08-05T21:28:00.002-03:002018-08-05T21:28:26.122-03:00O Esplendor de Psiquê<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyTox0zZo-gAnK6bzBJHtv0paKSrLAmmY5immGWEYvB5FsELZHZIujNNiu-yhhBPTY47y0dvb1gXUdtUUYPxPFn2OY-GQBGrZq1XrCc8oU6bLTuQWtGgrlW0CICva233C2qxgTcMSn_dpG/s1600/AURORA-DEUSA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="441" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyTox0zZo-gAnK6bzBJHtv0paKSrLAmmY5immGWEYvB5FsELZHZIujNNiu-yhhBPTY47y0dvb1gXUdtUUYPxPFn2OY-GQBGrZq1XrCc8oU6bLTuQWtGgrlW0CICva233C2qxgTcMSn_dpG/s320/AURORA-DEUSA.jpg" width="235" /></a></div>
<br />Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-38150551689679910592018-08-05T21:23:00.001-03:002018-08-05T21:23:39.009-03:00Eros e Psiquê.. e a sogra invejosa.<div style="text-align: justify;">
Psiquê é uma princesa que, em razão da grande beleza, desperta a inveja de Afrodite, deusa do amor e da beleza. Por esta razão, Afrodite decide enviar seu filho Eros (Cupido) para flechar a moça com suas setas mágicas, o que a faria apaixonar-se pelo primeiro homem que visse. Eros, entretanto, fascinado pela beleza da jovem, acaba por ferir-se com a seta e se apaixona por ela.</div>
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<br /></div>
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O deus a leva para um rico palácio e passam a viver em segredo. Ele passa as noites com sua amada mas, antes do raiar do dia, parte de volta à morada dos deuses, preocupada para que sua mãe não descubra o que aconteceu.</div>
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<br /></div>
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Vivem grandes momentos de felicidade, mesmo que Psiquê nunca tenha visto a face do amado, que a advertira para jamais tentar ver o seu rosto. Ela, entretanto, curiosa, desconhecendo a verdadeira identidade do rapaz, imagina que deva ser muito feio e decide observá-lo enquanto dorme, com auxílio de uma lamparina. Por descuido, deixa pingar uma gota de óleo quente sobre a face do deus. Eros acorda desesperado e vai embora a lamentar-se. "O amor não pode viver onde não existe confiança."</div>
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<br /></div>
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Esta afirmação dá início ao processo de transformação de Psiquê, a personificação da alma. O deus Eros experimenta a dor física e a moça se começa a vivenciar o sofrimento espiritual. Parte então em busca da ajuda dos deuses, porém nenhum deles se dispõe a ajudar a jovem mortal que ousou unir-se a uma divindade.</div>
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<br /></div>
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Resta-lhe pedir ajuda a Afrodite, a sogra ciumenta. Entretanto, apesar de seu gênio forte, Afrodite é sábia o bastante para buscar a conciliação. A deusa sabe que o fluxo da vida depende da união entre o Amor e a Alma, e por esta razão, a deusa mãe dominadora de Eros, baixa a guarda e se dispõe a dar uma oportunidade de redenção para a nora impetuosa. Mas desde de que esta aceite se submeter a quatro duras provas para mostrar se é merecedora do amor de seu filho.</div>
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<br /></div>
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Ao contrário dos contos de fadas em que o número três aparece como condutor das forças mágicas, o número quatro, simboliza a matéria e o esforço físico do trabalho, o mundo da humanidade de Psiquê, através do qual ela deverá avançar para conseguir cumprir as ordens de Afrodite.</div>
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<br /></div>
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São provas quase impossíveis de cumprir. Mas o amor que pulsa no coração da imprevidente Psiquê vai lhe permitir acessar os planos etéreos do espírito e aprender as quatro lições necessárias para reconquistar o amor de Eros - o que, sem dúvida, há de surpreender a maliciosa Afrodite.</div>
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<br /></div>
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A primeira prova pede <b>discernimento</b>. A sogra manda despejarem no chão quatro sacos de grãos: feijões, lentilhas, arroz e milho, misturando tudo muito bem, e ordena que, pela manhã Psiquê tenha separado todos os grãos e os recolocado nos sacos. Desesperada, ela clama pelas forças da natureza, e logo um exército de formigas se apresenta e separa os grãos antes do raiar do dia.</div>
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<br /></div>
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A segunda prova demanda <b>criatividade</b>. A jovem precisa recolher a lã de ferozes carneiros selvagens que pastam às margens de um rio. Alguns caniços que crescem à beira atendem às súplicas de Psiquê, e a orientam que espere o sol se pôr e quando os carneiros se deitarem para descansar que ela corra a retirar a lã que ficara presa nos galhos onde os animais se esfregaram durante o dia.</div>
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<br /></div>
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A terceira prova pede<b> ampla visão</b> antes de iniciar a tarefa. Ela precisa buscar a água da vida no alto de um penhasco. Enquanto observa a paisagem ao redor, vê uma águia planando e acaba por ver um caminho seguro entre os arbustos. Segue por ali até chegar à cascata e enche uma moringa com a água da vida. Estas tarefas e o contato com as forças da natureza fortalecem Psiquê, não mais a menina ingênua e inconsequente que deixou partir seu grande amor.</div>
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<br /></div>
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A quarta e derradeira missão é a mais difícil. Consiste em descer ao mundo de Hades, a terra dos mortos, e pegar a caixa onde está guardada a poção de beleza eterna de Perséfone. Com receio de morrer durante a empreitada Psiquê pensa em desistir da prova, quando então, vê à sua frente uma torre, dirigindo-se para lá em busca de abrigo.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A torre representa um conjunto de ideias, um eixo estrutural, uma construção humana que aproxima o mortal do divino. A torre orienta a jovem a manter o foco e ela consegue pegar a caixa de Perséfone.</div>
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<br /></div>
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Embora bem sucedida, tendo sido amparada por forças instintivas, adquirido discernimento, criatividade, ampla visão e foco, Psiquê perde-se outra vez pela <b>curiosidade</b>.</div>
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<br /></div>
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Ela abre a caixa da beleza eterna para encontrar ali sua última lição e a própria morte. A vida conduz a beleza ao envelhecimento; o que eterniza a beleza é a morte. (Em nosso imaginário flutua a beleza eterna de Marilyn Monroe e da Princesa Diana..)</div>
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<br /></div>
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Eros, o deus do Amor, vem em auxilio da esposa amada; leva-a em seus braços até a presença de Zeus, deus do Olimpo, a quem suplica por piedade.</div>
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<br /></div>
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Eros se humaniza na sua dor e Psiquê, a alma divinizada, adquire a imortalidade, transformando-se agora em deusa. Afrodite, deusa do amor e da beleza, recepciona o casal, que passa a viver no Olimpo, a morada dos deuses, e ali nasce Volúpia, a filha de ambos. </div>
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<br /></div>
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<b></b><br /></div>
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Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-26021562755252783632013-11-03T23:23:00.001-02:002018-07-15T15:42:53.404-03:00BLOG E FACEBOOK ... ACESSE, COMENTE E PARTICIPE.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjY5Mxp9V-y8yFJ4XF-T_8UmYdKfMijvm5zj-802TB7mNNRvlbu6l1F8Fc-SeM8172dOX6pnnawxP9cIMNZhzJGBwtRGequDkudpKA7EvfKbJb9zP0TB7XcSI0dHGZHsAvgVnFipIUdaGm6/s1600/anima-animus.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjY5Mxp9V-y8yFJ4XF-T_8UmYdKfMijvm5zj-802TB7mNNRvlbu6l1F8Fc-SeM8172dOX6pnnawxP9cIMNZhzJGBwtRGequDkudpKA7EvfKbJb9zP0TB7XcSI0dHGZHsAvgVnFipIUdaGm6/s320/anima-animus.jpg" /></a></div>
<br />
Penso que as questões tratadas no blog podem suscitar dúvidas e perguntas referentes a situações pessoais dos leitores. Por exemplo, caso se deparar com um texto em que são descritos conteúdos semelhantes a seus conflitos íntimos, que o leitor tenha a possibilidade de uma comunicação mais estreita, de "falar" e de "ser ouvido". <br />
<br />
Assim, se julgar apropriado, você pode acessar a conta facebook.com/deusas da lua e fazer sua pergunta ou consideração, referindo-se a textos aqui publicados sob a ótica da psicanálise ou da mitologia.<br />
<br />
Aproveito para registrar o feliz encontro no Espaço Ayni, no Itaim Bibi, neste sábado dia 02 de novembro, onde foi feita a Palestra Deusas da Lua, o Eterno Feminino. Agradeço a presença de todos, especialmente do Dr. Ricardo Leme, pelo apoio e incentivo.Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-81798726809059304232013-05-06T13:53:00.001-03:002018-07-15T16:00:17.649-03:00DEUSAS DA LUA: O ETERNO FEMININO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizQurEKKdvJ_bmNX1n6YKg57dAPH1U-MKTFFvJnjDCKoHC7rKQ_RdtmpxvATpk54TB3JbChyphenhyphenDkeFge36VKkTDtE0s63DHUe5vPD0z8FRZu2-sAWkbt8evnUkF2woMmjcwlbzMuYI97bQ4x/s1600/mitologia-artemis.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="886" data-original-width="700" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizQurEKKdvJ_bmNX1n6YKg57dAPH1U-MKTFFvJnjDCKoHC7rKQ_RdtmpxvATpk54TB3JbChyphenhyphenDkeFge36VKkTDtE0s63DHUe5vPD0z8FRZu2-sAWkbt8evnUkF2woMmjcwlbzMuYI97bQ4x/s400/mitologia-artemis.jpg" width="315" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
DEUSAS DA LUA: O ETERNO FEMININO</div>
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<div style="text-align: justify;">
Uma análise mitológica da psique feminina.</div>
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<br />
<div style="text-align: justify;">
Este livro conta histórias de deusas,de bruxas e fadas, destes seres sobrenaturais em que não acreditamos, mas que nos falam ao coração; aos quais fazemos pedidos íntimos, sendo que muitas vezes somos atendidos e isso não nos causa surpresa.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Especificamente, falamos sobre as quatro fases da lua e as deusas que as representam. E contamos a história misteriosa da quinta deusa, Lilith, a deusa da lua invisível. </div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Mostramos também os efeitos causados pela egrégora das deusas da lua sobre o comportamento dos homens. Mesmo que alguns não admitam os aspectos do feminino da sua personalidade, ainda assim costumam ter seus humores modulados pela atuação das fascinantes deusas da lua.</div>
<br />
Mais informações? Pesquise DEUSAS DA LUA.<br />
<br />
<br />
<br />Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-66138841195751774222013-04-30T09:34:00.000-03:002013-11-03T23:31:51.411-02:00One more short story about the moonTo those who enjoy the subject of<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjW8NzkR01_DQkJizsTET70juk6oMZB8Tj3ha7X6vLowRa9x5EycI99iXPl6BzFt7-24Rg8cNoSKgl9s_EfZOnE9WzNshamVFGiQfoNSg1QpRKG4NUQrHcMq85_djLyYiJjqu7TO2DCaJfI/s1600/phoebe.bmp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjW8NzkR01_DQkJizsTET70juk6oMZB8Tj3ha7X6vLowRa9x5EycI99iXPl6BzFt7-24Rg8cNoSKgl9s_EfZOnE9WzNshamVFGiQfoNSg1QpRKG4NUQrHcMq85_djLyYiJjqu7TO2DCaJfI/s320/phoebe.bmp" /></a></div>this blog.<br />
<br />
I have just finished my second book Deusas da Lua, an analisys of man and woman behavior concerning their psychological aspects.<br />
<br />
It shows how anima and animus affect human's humor and lead people through unexpected paths. It tells about the godesses of the moon in a very simple and amusing text.<br />
<br />
Want more details? Acess facebook.com/deusas da lua.<br />
<br />
Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-23105475413496008432013-04-05T10:17:00.004-03:002013-05-06T13:18:23.260-03:00UMA AUSÊNCIA TANGÍVELAh, esse abismo entre o saber e o sentir! Sei que há tempo para abraçar e tempo para deixar de abraçar, tempo de chegar e tempo de ir-se embora... Sei que preciso aprender agora a abrir meus braços e deixar que um pedacinho do meu coração seja levado pela minha doce Babí, para que ela não se sinta sozinha na sua "viagem".<br />
<br />
O fato: após doze anos de alegrias e companheirismo, a pequenina "salsicha" Babí se deixou levar para um lugar aonde ainda não posso ir. Houve carinho até o final e os olhos dela refletiam muito mais coragem do que os meus.<br />
<br />
O vínculo: dividimos momentos sublimes de nossas vidas; corremos no parque, nadamos no rio, viajamos por estradas, passamos um Natal em solitude, apenas nós duas e os Anjos, assistimos a novela juntas, adoecemos algumas vezes, saramos, choramos e nos consolamos como amigas verdadeiras, capazes de advinhar o mais sutil pensamento uma da outra. De todos os cãezinhos que tive, e foram muitos, de todos que muito amei, Babí foi aquela que mais me amou e me fez feliz, apenas por estar ao meu lado, sem exigência alguma, a me fitar com seus luminosos olhos redondos de jabuticabas.<br />
<br />
O presente: ela repousa agora no jardim de casa. Continua perto de mim, negando o abandono e até mesmo a saudade, com sua ausência tangível, pois que consigo percebê-la correndo pelo quintal com suas perninhas tortas, cheia de vida, me chamando com latidos espertos para ver os esquilos e os saguís fugindo pelos galhos das árvores. <br />
<br />
Agradeço a Deus pela oportunidade de dividir estes anos com minha pequena. Agradeço o aprendizado; lições de vida que me tornaram um pouquinho melhor; dela cuidei com todo amor e ela me correspondeu com igual dedicação, e principalmente com alegria.<br />
<br />
O futuro: que possamos nos re-encontrar em algum lugar para retomar essa amizade tão linda.<br />
<br />
Obrigada Babí por tudo o que aprendí com você. <br />
Até a volta. <br />
<br />
Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-63449877380734167482013-01-04T16:40:00.000-02:002013-01-04T16:55:30.422-02:00Essa dor mal compreendidaAcabo de ler SAÚDE é CONSCIÊNCIA, livro escrito pelo Dr. Ricardo José de Almeida Leme, médico, neurocirurgião e, ao meu ver, um filósofo de primeira estirpe, do tipo "sei que nada sei". O autor é acessível no seu texto sobre saúde pleno de reflexões indispensáveis. Uma delas agora me atiça. <br />
<br />
"Criar espaço interior é passo fundamental para dar significado à vida e viver com saúde". (Dr. R.J.A. Leme)<br />
<br />
A psicanálise mostra que todos temos um sótão entulhado de bugigangas, tão cheio que de vez em quando uma delas despenca sobre a nossa vida consciente causando-nos um <i>galo</i> na testa ou uma ferida no pé; produzindo alterações no comportamento e sintomas em diferentes partes do corpo físico que levam sempre à uma mesma queixa: "alguma coisa me dói".<br />
<br />
Eu costumava me perguntar "por que tanto me dói a cabeça? a coluna? o estômago?"<br />
Essas dores, que a gente costuma chamar de <i>minhas dores</i> a partir de dado momento, quando elas se tornam habituais, são sinais, a maior parte de nós sabe disso, de que alguma coisa não está funcionando direito no organismo.<br />
<br />
Hoje não mais me pergunto porque dói; quero saber <b>para que</b> me dói essa dor.O que exatamente ela está a me pedir para mudar? E percebo uma relação com o espaço interior, esse cantinho da alma de onde a vida flui, ilumina e alimenta as células dos órgãos do corpo físico. Compreendo que a utilidade de um vaso está no seu espaço vazio.<br />
<br />
Enfim, essa dor mal compreendida dói para chamar atenção para o espaço infinito das nossas possibilidades humanas quando este espaço é abandonado por nós, vazio de sonhos, ideias, projetos, esperança, fé, e de confiança no poder inquestionável do amor. <br />
<br />
Esta terra fértil, nosso precioso espaço interior, relicário da alma, quando dele nos esquecemos para viver tão somente as sensações da periferia do corpo, resta sem vida como o leito de um rio cujas águas secaram; perde utilidade, vitalidade, razão de existir. <br />
<br />
Aquele que sente alegria em cultivar a essência, o conteúdo do vaso, torna-se capaz de transmitir bem estar aos que com ele convivem. <br />
<br />
Quando nos tornamos vasos úteis e temos certeza de ser amados assim como somos, seres em aperfeiçoamento, mesmo diante do desgaste natural da matéria, recebemos <br />
altas doses de energias revigoradoras e analgésicas. Quando se é feliz nada dói.<br />
<br />
Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-73334370240584142482011-07-02T08:51:00.011-03:002011-07-12T10:37:55.909-03:00Diálogos na era da comunicação"<i>E disse Deus: Haja luz. E houve luz." (Gen. 1;3)</i><br />
<br />
Simples assim. Emissão da palavra, vontade declarada e surge a luz como resposta ao imperativo divino.<br />
<br />
"E disse Deus: <b>Façamos</b> o homem à <b>nossa</b> imagem, conforme à <b>nossa </b>semelhança..." (Gen. 1;26)<br />
<br />
Ao falar, Deus manifesta sua vontade e a comunica a um interlocutor, pois a segunda frase indica claramente a presença de mais Alguém ao Seu lado.<br />
<br />
Podemos pressupor um diálogo entre duas Entidades; um tácito acordo, clareza quanto ao propósito das ações que estão sendo realizadas e plena concordância em relação à obra consumada. Um exemplo de comunicação verdadeira.<br />
<br />
Agora vamos ao século XXI, era da comunicação, e observar os muitos usos que o homem aprendeu a fazer da palavra.<br />
<br />
Desde talvez de antes dos tempos dos sofistas, a intenção verdadeira do ser falante vem caminhando por rotas sinuosas; esgueira-se por vielas escuras, confunde olhos treinados e ouvidos atentos, e escapa veloz com sorrisos de ironia, vestida por palavras outras, diferentes em tudo daquilo que verdadeiramente sente.<br />
<br />
Freud muito trabalhou para decifrar a linguagem do inconsciente, também Lacan, entre outros, e antes dele, Saussir, com sua espetacular contribuição, a Linguística.<br />
<br />
Estes cientistas estudaram o homem através da linguagem, do uso que fazemos das palavras. Do tanto que escamoteamos a verdade, consciente e inconscientemente, com farta artilharia de metáforas, embora flagrados muitas vezes pelos chamados atos falhos.<br />
<br />
Eu aqui vou falar um pouquinho sobre diálogos e relacionamentos. Sobre nossa incrível habilidade para dar <i>tiro no pé</i>; falando demais ou de menos, quase sempre misturando real e imaginado, sem, todavia, transmitir claramente o significado daquilo que dizemos. <br />
<br />
Habitualmente falamos muito, ouvimos pouco, fazemos ruídos em demasia...e desviamos do assunto. Praticamos diálogos surreais sem perceber.<br />
<br />
A parte real de um diálogo é aquilo que efetivamente se diz. É comum o emissor/receptor adicionar uma parte imaginada e não verbalizada ao discurso do outro, tornando esta projeção consistente e significativa no desenrolar daquilo que se imagina ser um simples diálogo.<br />
<br />
É evidente que o receptor capta o que ouve, jamais o que o emissor imaginou e acrescentou à sua fala.<br />
<br />
Diálogo às vésperas do dia dos namorados:<br />
<br />
A - Amor, vamos jantar fora nesta sexta-feira? (e depois comemorar no motel?)<br />
<br />
B - Sim, meu bem, ótima ideia! (pelo menos mudamos a chatice de toda sexta-feira.)<br />
<br />
Diálogo truncado, com um dos sub-texto revelador de animosidade. Tipo de não comunicação verbal. Resulta em reação verdadeira aos conteúdos projetados: <b>A</b> começando a esquentar e <b>B</b> de prontidão com balde de água gelada nas mãos. Congruência zero.<br />
<br />
Segundo diálogo:<br />
<br />
A - Querido, veja a lingerie nova que comprei! (Que tal fazer amor esta noite?)<br />
<br />
B - É linda, meu bem! Quanto custou?<br />
<br />
Acréscimo por distração, uma vez que a parte não verbalizada por <b>A</b> deixou espaço para <b>B</b> fazer interpretação racional "aquisição de produto novo igual a despesa extra." Congruência zero.<br />
<br />
Partes constitutivas de um diálogo por evasão, em que a emoção (conteúdo reprimido) faz uma das partes (ou as duas) desviar do tema tratado: <br />
<br />
Parte real - palavra articulada, mensagem verbalizada/acústica<br />
<br />
Parte imaginada - mensagem intuída, produzida e/ou captada e incluída no discurso do outro à sua revelia.<br />
<br />
Este modo de dialogar por evasão, com obstrução da verdade que se quer manifestar (fazer amor) por meio da ação dos conteúdos internos, leva a desentendimentos, frustrações, mágoas e ressentimentos.<br />
<br />
A parte clara e evidente do que se diz (e que é a única efetivamente ouvida pelo receptor) transforma-se em simples retórica diante dos acréscimos invasivos não verbalizados.<br />
<br />
Os sub-textos não verbalizados se originam nos conteúdos emocionais de uma ou de ambas as partes que falam, sendo resultado de insegurança, carência, baixa auto-estima e da sensação de sempre estar submetido à avaliação e crítica por parte dos interlocutores. <br />
<br />
Marido assistindo à tv:<br />
<br />
"Puxa, essa atriz tem uma cinturinha tão fina que parece mais uma boneca..."<br />
<br />
Esposa na cozinha, em resposta à observação dele:<br />
<br />
"Você está me chamando de gorda?" <br />
<br />
Na sequência, diálogo dissonante: <br />
<br />
"Eu não disse isso!!"<br />
<br />
"Disse sim!! Eu não sou boba! Foi exatamente isso que você quiz dizer."<br />
<br />
Ele, de fato, <b>não</b> disse isso. A afirmação dela é uma hipótese, uma interpretação baseada em conteúdos pessoais dela e introduzida no discurso dele. O suficiente para dar início à contenda.<br />
<br />
O bom relacionamento, seja ele social ou amoroso, se faz através de comunicação eficaz, e esta se produz por ações pontuais positivamente significativas. Palavras assertivas são carícias efetivas. Levam a ações facilitadoras em qualquer tipo de relacionamento. <br />
<br />
Estes verbos são alguns dos indispensáveis para a construção de pontes entre as pessoas: ouvir, acolher, relevar, colaborar, perdoar, acariciar, agregar, compreender...<br />
<br />
Os interessados podem praticar aos poucos, com alternâncias, sem pressa mas sem preguiça.<br />
<br />
A falência de um relacionamento quase sempre decorre de comunicação truncada e de ações desvirtuadas, as quais se fazem acompanhar de palavras hostis. Palavras venenosas só servem para isolar e para envenenar aquele que fala.<br />
<br />
São ações fatais para um relacionamento: reclamar, criticar, ironizar, cobrar, maldizer, blasfemar ... <br />
<br />
Reclamações, críticas e cobranças constantes dão início ao afastamento entre as pessoas e quase sempre levam ao rompimento dos laços afetivos.<br />
<br />
Acolher carinhosamente os amigos e cortejar o parceiro sinaliza aceitação. A demonstração de bom humor e a não valorização de pequenos contratempos revelam resiliência, além de produzir ações cooperativas.<br />
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Parece-me ser esta a chave do cofre do bem viver: celebrar a vida enquanto dura a viagem.<br />
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<i>amo-tedurmabemsimdeixa-meajudarparabénssejabemvindoamémsimabraça-mevenhajuntoteadmirosorriasimvivaavidasimsaúdesimDeusteabençoesimacalma-teficabemconfiatenhaféeuteajudobomtrabalhoboaviagembomexameeuteesperovoumasvoltosimtenhabonssonhosmeufilhoqueridomamãeolhaopresentequefizpravocêamo-tealeluiaobrigadoclaroquevaisconseguirgraçasameecuidedanaturezasim</i>Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-80919872421980703692011-01-20T18:53:00.012-02:002011-07-03T11:45:23.707-03:00"Façamos o que é bom no tempo oportuno." Eclesiastes, cap. 11 (Bíblia)Milhões de internautas ao meu dispor e permaneço indecisa diante das inúmeras possibilidades de interação.<br />
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Milhões de informações em disponibilidade, de que eu não preciso, nem tenho tempo para todas. <br />
<br />
Hoje é o tempo oportuno para mudanças.<br />
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Vinte e quatro horas, hoje, é o único espaço-tempo de que disponho, uma vez que passado e futuro são abstrações, apenas indicativos verbais.<br />
<br />
Sinto-me a viver em um formigueiro e não me sentir formiga. <br />
<br />
Sonho sonhos compartilhados com seres humanos sensíveis, confidentes, acríticos, para efetuarmos trocas emocionais e físicas, não necessariamente sensuais, entenda-se ...<br />
<br />
Abraços, sorrisos cúmplices, mãos dadas, não apenas emprestadas. Sonhos que possam se realizar a partir de hoje, o tempo oportuno.<br />
<br />
Por onde andará a rara figura do "amigo de infância" (mesmo aqueles que tenhamos conhecido há pouco tempo), a quem se podia mostrar fraquezas, inseguranças, não para análises pontuais, mas apenas para compartilhar nossa humanidade, e confirmar que eu e o outro, cada um do seu lado, ouvindo e falando, somos igualmente contraditórios, fortes e fracos diante da vida, porém capazes de juntar nossas diferenças em uma história chamada diversidade.<br />
<br />
"Fala que eu te escuto" é regra psicanalítica, mas o amigo, diferentemente do terapeuta, nos pega no colo e acaricia nossa alma.<br />
<br />
Quero mais amigos para quem eu possa falar sem articular defesas; alguém para abrir o coração com a mesma coragem que os internautas exibem em sites de relacionamento enquanto elaboram perfis fantasiosos, cheios de <i>frufrus</i> alegados.<br />
<br />
(Na verdade, falo sobre a questão formiga-vai-com-as-outras, nosso mundo em que a maioria faz o que a minoria manda.<br />
<br />
Mas quero registrar companheiros personalíssimos que partilham comigo uma gostosa oitiva, cada um expressando exatamente sua vontade e opinião, e dividindo uns com os outros as nossas adoráveis diferenças: Sucla, Tetê Petri, Dra. Nilcéia, Armanda, Snitram, Paulo Breg., Rose Cris e tantos outros mais...<br />
<br />
A roupagem social, parece ser o necessário padrão identificador de castas em nossa sociedade, a qual espera, com certa razão, que cada um interprete <b>seu papel </b>(por isso a <i>Persona</i> é um fenômeno coletivo, não apenas individual), e isso envolve comportamento vinculado ao traje, incorporação de neologismos aos falares locais e até mesmo a <b>suposta liberdade</b> de escolher a qual filme assistir ou em que apedeuta votar nas eleições.<br />
<br />
Mas não propicia a aproximação emocional nem intelectual entre as pessoas, que, hoje em dia, saem de suas escolas com mentes uniformizadas; informadas, nem sempre formadas. <br />
<br />
Funcionamos por módulos ou patotas, seguimos tendências, marchamos ao sabor<br />
de lideranças auto intituladas, acreditamos piamente em tudo o que se traduz como científico, seguimos os "piadores" famosos, perseguimos o sucesso a qualquer preço ... <br />
<br />
Desempenhar os papéis que o público espera facilita os contatos ... e exacerba os efeitos negativos da <i>persona</i>, se não houver bom senso.<br />
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"Se você quer ser um vencedor, deve parecer-se com um vencedor." Então tá.<br />
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Pensar que Einstein mais parecia um mascate e Gandhi vivia enrolado em brancos panos encardidos...<br />
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De tanto representar papéis sociais inconsistentes acabamos engolidos pelo coletivo; nossas idiossincrasias se dissolvem, perdemos marcas peculiares que tornam cada bicho homem um ser especial.<br />
<br />
A tecnologia que facilita a nossa vida, nos aproxima uns dos outros, mas uniformiza e pausteriza.<br />
<br />
Mais que unidos, somos colados uns aos outros para que, massa amorfa, possamos navegar através do midiático mundo novo (Huxley).<br />
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O progresso é via de mão única; uma vez iniciado o movimento (e lá se vão milhares de anos), não há retorno.<br />
<br />
Porém, do mesmo modo que devemos lidar com nossas íntimas forças destrutivas e construtivas, por exemplo, as forças arquetípicas, podemos aprender a lidar com as correntes indutoras do progresso.<br />
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É bem possível identificar as marés que invadem nossas mentes com pensamentos pré-configurados e receitas-padrão de bem viver. <br />
<br />
É possível também integrar o jeito coletivo de fazer tudo igual para todos com o criativo e artesanal jeito de fazer artisticamente algo sempre especial para cada um. <br />
<br />
Tudo bem, vamos todos tomar vitaminas e fazer exercícios, mas, principalmente, sonhar nossos próprios sonhos, consumá-los, e viver nossas vidas como indivíduos únicos.<br />
<br />
Moramos no mesmo formigueiro-planeta, mas <i>cada um pode pintar sua casinha </i><i>de uma cor diferente</i> ... e viver sem tanta pressa, sem ter a <b>obrigação de parecer feliz.</b>Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-15950688464466519992011-01-12T16:18:00.005-02:002011-07-03T11:43:21.997-03:00Thanatus, a causa secretaMedo da morte, a causa secreta.<br />
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Reflexão sobre a morte e o ato de morrer.<br />
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<i>Na Mitologia Grega, Thanatus é o anjo da morte, irmão gêmeo de Hipnos, o sono; são filhos de Nix, a noite e de Érebro, a escuridão do mundo inferior.<br />
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Thanatus era representado como uma nuvem prateada que envolvia os mortais e lhes arrebatava a vida. <br />
<br />
</i>Creio que não são as pessoas tolas as que mais dizem tolices; mas sim as angustiadas, amedrontadas, diante do enfrentamento da causa secreta. Sejam aquelas que recebem notícia de um mal incurável em seu próprio organismo, sejam aquelas informadas de que um amigo ou ente querido está desta forma diagnosticado. Isso, quando falamos na véspera da morte, situação em todos estão, com maior ou menor brevidade, afinal, morrer é o paradoxal objetivo da vida.<br />
<br />
Uma cena do filme Chico Xavier, cômica, por sinal, mostra o médium, a bordo de um avião em forte turbulência, a gritar assustado com medo de o avião cair e todos morrerem no desastre. Surge então seu guia espiritual, Emanuel, advertindo-o com certo tom enérgico na voz "Pare com essa gritaria! Se tiver que morrer, morra, mas faça-o com dignidade, sem escândalos." <br />
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Na sociedade, nosso berço cultural, a naturalidade que deveria estar investida no ato de morrer, no ritual necessário de confirmação desta transformação (vivo em morto) tem se transformado em discursos de negação da angústia (a maior de todas: a certeza inevitável da morte, da <b>sua morte</b> especificamente).<br />
<br />
As pessoas parecem sussurrar (até mesmo para não se ouvirem falar a respeito de tal assunto): "Se tiver que morrer, morra, mas não precisa fazer cara de morta. De preferência, não faça barulhos, nem queixas, nem manifestações de temor. A mim já me basta conviver com meu próprio medo da morte". <br />
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Não faça incômodos a terceiros. Tente morrer com dignidade, principalmente após longos períodos de doença que obrigam família e amigos a constantes<br />
preocupações, a perguntar pelas suas melhoras (se as houve), quando sai da UTI, se o convênio autoriza os procedimentos, submetendo os vivos a uma tensão insuportável enquanto você, o quase morto, experimenta<br />
cuidados paliativos, que, meu Deus! para quê? já que não vão resolver nada mesmo.<br />
<br />
Morrer tornou-se uma cruz na vida do homem moderno, tão ocupado em seu viver globalizado, em absurda fuga de sua única certeza.<br />
<br />
Mas, vamos lá. Tente morrer com dignidade. Dê preferência aos sábados, para que o enterro aconteça no domingo e não atrapalhe a vida de quem trabalha e vai continuar a viver, apesar de você.<br />
<br />
Ao que tudo indica e as boas maneiras pressupõem, o ideal é que se produza um rápido e asséptico funeral: um prático "fast-funeral" (não quis abreviar para "fast-fun" porque penso que seria sarcasmo sugerir que este ritual atenderia em muito seu público alvo, se, além de "fast" fôsse igualmente "fun" (uma musiquinha mais animada, salgadinhos, etc, além das flores).<br />
<br />
Ah, meu e seu desejo de imortalidade!<br />
<br />
Tudo o que os vivos desejam é manter "ad infinitum" seus bens, seus afetos, sua convicção narcísica de ser absolutamente indispensável.<br />
<br />
Mas nenhuma herança é jacente, sempre haverá alguém a me substituir na posse<br />
de tudo aquilo que eu sempre considerei definitivamente meu.<br />
<br />
Enquanto me agito, estou vivo e o meu desejo não se acaba. Eu quero continuar a correr atrás não sei de quê apenas porque a manada disparou (sabe-se lá quando ou porquê) e pouco me importa raciocinar sobre a possibilidade de um desfiladeiro à frente; basta me sacudir e entorpecer, tomar parte da festa da "vida".<br />
<br />
Que fuga mais tola, essa, em nome da pura negação da minha <b>obrigação</b> de morrer.<br />
<br />
Diante de um caroço, do olhar meticulosamente frio e clínico, muitos de nós ousamos falar o que não devíamos, ou sofremos por ouvir da boca de alguém bem próximo: "Isso não é nada. Se adoeceu tem que tratar."<br />
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É pouco conforto para nossos ouvidos, ainda mais quando a lógica vai buscar a ironia para completar: "Se morrer, enterra-se..."<br />
<br />
A ironia rasa serve apenas para nos defender do não enfrentamento da iminência da morte, mas igualmente como recurso para ignorar as responsabilidades de quem <b>ainda</b> está vivo.<br />
<br />
Aquele que está vivo quer aproveitar tudo de bom que a vida pode lhe <br />
oferecer, mas precisa também cumprir os deveres cabíveis: trabalhar, pagar impostos, escovar os dentes, obrar e limpar-se, pensar e refletir, amar e comprometer-se com o outro...<br />
<br />
Enfim, existem regras, e muitas, desde o envolvimento com suas raízes (mãe, pai, família), com seu país e planeta, com seu momento histórico, seu idioma, seu gênero ... aquilo que se pode considerar determinismo pois nos submete compulsoriamente.<br />
<br />
Já a morte, mais que assustadora, deve ser compreendida como libertadora; o Anjo Thanatus nos outorga o pleno descompromisso com quaisquer encargos, normas ou etiquetas.<br />
<br />
Caberá sempre aos vivos providenciar recursos para o enterro, vestir preto, chorar e atender aos rituais. Ao morto cabe apenas estar presente,nada mais.<br />
<br />
Ainda assim, apesar dos pesares (como diz a música) seria muito agradável ficar mais um pouco, pelo amor dos que amamos e daqueles que realmente nos amam; pelas manhãs cheias de neblina, chocolate quente, pelas risadas compartilhadas, pôr do sol ao som de Ravel, caminhadas com pés descalços, beijocas roubadas, vitórias comemoradas, derrotas vividas e consoladas nos braços daqueles que nos respeitam e querem bem...<br />
<br />
Mas quero mesmo falar do fato - a morte. Que nada exige, a nada obriga e não marca encontro (exceções à parte). Não nos consulta, não pede autorização para chegar e é das poucas coisas efetivamente democráticas que se conhecem.<br />
<br />
Ao invés de sofrer o medo de atravessar <b>a ponte</b>, alinhavar discursos desconexos ou desesperados, acredito que, melhor é focar na outra margem da vida... pois parece que por lá o gramado é também verde e o pôr do sol maravilhoso.Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-43340960731253540282011-01-04T11:10:00.000-02:002011-01-04T11:10:04.235-02:00Conflitos Recorrentes entre Mãe e FilhaA Grande Mãe Demeter, conflitos recorrentes entre mães e filhas.<br />
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Problemas com sua filha?<br />
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Sua mãe não entende você?<br />
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"Ninguém jamais se separa inteiramente da mãe." Barbara Black Koltuv, Ph.D.<br />
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Aprenda a lidar com este conflito através do mito da deusa mãe Demeter e de sua filha Perséfone. Compreenda os movimentos feitos para a conquista da individualidade, sabedoria e realização. <br />
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Primeira coisa para compreender a relação arquetípica entre mãe e filha; observar símbolos e mitos. A belíssima história de Demeter e Perséfone.<br />
<br />
<br />
O relacionamento entre mães e filhas decorre de um entrelaçamento visceral, <i>extra modum </i>(além da medida), um movimento sem princípio nem fim, bem representado pelo 8 deitado, ou símbolo do infinito. Vale pontuar a conexão fisiológica entre ambas representada pela placenta e pelo cordão umbilical.<br />
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<br />
Isso porque das barrigas das mães saem as meninas, de cujas barrigas sairão as suas meninas... (falar de meninos agora é fora do nosso tema).<br />
<br />
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Qualquer coisa para se analisar em uma criança, deve-se olhar necessariamente para a mãe. Pois que uma parte dela está incrustrada na filha, não apenas como herança filogenética, traços, cor de olhos, timbre de voz etc.. Mas uma parte de sua alma e nesta parte, fagulhas de seu poder.<br />
<br />
Trata-se de uma capacidade inata, ontogenética, própria do ser.<br />
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<br />
Esta fagulha permite que a filha, ao dar a luz, saiba exatamente como tocar, segurar, proteger e falar ao seu bebê. Fará exatamente como sua mãe fez, e antes dela, sua avó. Aplicará este conhecimento instintualmente e o desenvolverá como <strong>seu.</strong><br />
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<br />
Algumas jovens mães, intuidas do poder contido na aplicação desta <i><i>mágica</i> <i>receita da vovó</i></i>, da qual intuitivamente se apropriam, alardeiam obter seus conhecimentos em modernos livros de pediatria e psicopedagogia. Negam o óbvio como defesa diante dos poderes da avó, na verdade, a Grande Mãe Demeter.<br />
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<br />
Demeter é também Gaia, a Mãe Terra, ventre simbólico de onde tudo provém; água, plantas, alimentos ... e para onde tudo retorna. Demeter é, desta forma, deusa da Vida e da Morte.<br />
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<br />
No mundo fático observamos a natureza, em modo contínuo, alternar a vida e a morte. Pulsão de vida x pulsão de morte ... a energia é a mesma. A função é diferente. É preciso morte para que haja vida. O mito da Fenix ... mais um arquétipo a nos visitar.<br />
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Para se comer bife, é preciso matar a vaca. Para se comer o pão é preciso matar o trigo. Para eu viver é preciso que algo morra, ou se transforme.<br />
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Para uma nova Mãe existir, é preciso que a mãe anterior morra (ou se transforme em avó.)<br />
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Muitas avós moderninhas, eternas adolescentes, desequilibram-se como indivíduos, pois alteram o trânsito natural da existência: nascer, crescer, amadurecer, multiplicar, envelhecer e morrer. Contradizer este ritmo é, no mínimo, tolice.<br />
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<br />
Em uma relação mãe/filha (onde não existe a figura do neto) temos duas protagonistas para uma mesma história, duas psiques envolvidas no processo de vir-a-ser, o processo de individuação (C.G.Jung). Duas <i>personas</i> distintas, duas <i>sombras</i> em ação, dois <i>animus</i> voluntariosos, e dois <i<i>>selves</i>, a totalidade essencial da psique.<br />
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<br />
Esta egrégora arquetípica é mais que suficiente para causar a dessintonia e os conflitos habituais observados entre mães e filhas. Arquétipos são forças incontroláveis, poderosas, que manifestam sentimentos e necessidades primitivas de existir e de se consumir, como um relâmpago em busca dos mistérios subterrâneos da terra.<br />
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<br />
São, no mínimo, quatro deusas (Selene, Ártemis, Hécate e Lilith) a dançar ao redor de um mesmo caldeirão, mas cada qual a preparar <strong>a sua poção de feiticeira.</strong><br />
<br />
Ocorre que, de fato, embora se enfrentem como duas rainhas, mãe e filha estão submetidas a uma hierarquia natural e obrigatória; uma é mais velha e mais sábia que a outra. Temos uma rainha e uma princesa (Demeter e Perséfone) a se enfrentarem e todos sabemos que na natureza não podem existir duas rainhas em uma mesma colméia.<br />
<br />
Aqui reside o impasse que clama por transformação e morte simbólica.<br />
<br />
Curiosamente, se a mais forte (Demeter) reverenciar a mais fraca será obtido um armistício em nome da sabedoria.<br />
<br />
Se a princesa Perséfone reconhecer e <strong>acolher</strong> o poder da Rainha mãe, será ela mesma transformada em rainha (terá seu próprio reino para dominar, o Hades) e não terá porque cobiçar o território materno. Será obtido o armistício em nome da prudência, o que igualmente significa sabedoria. Neste instante Perséfone se transformará em rainha, sem que seja necessário destronar a Rainha Mãe. Assim se inicia a resolução do conflito.<br />
<br />
Como se vê, embora antagonistas, até mesmo adversárias, Demeter e Perséfone não são inimigas; ambas precisam lidar com ambiguidade e ambivalência (amor e ódio). Cada uma significa um dos círculos que formam o 8 deitado (infinito). Estão vinculadas ad infinitum.<br />
<br />
São duas mulheres eternamente em busca de harmonia, sabedoria e realização. De preferência, cada uma <strong>a cozinhar no seu próprio caldeirão</strong>; sem abrir mão de sua individualidade.<br />
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Simples, não é?<br />
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Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-64959668056497125742010-07-11T21:50:00.003-03:002010-07-13T19:41:49.108-03:00Casamento: a história de Elisabete, a rainha do larEla entra no quarto trazendo a xícara de café, percebe que ele está dormindo e fica por alguns segundos a admirar este seu homem moreno e cabeludo. O movimento do tórax largo e bronzeado mostra a respiração tranquila e os músculos, mesmo relaxados, denunciam a força de um corpo saudável, cuidado com boa alimentação e exercícios físicos que ele não dispensa.<br />
<br />
Ela muito se orgulha dele, da sua inteligência aguda, da sua capacidade de discernimento, seu poder de expressar-se com rara propriedade. Ela reconhece nele todas as qualidades que não encontra em si mesma. Juntos formam um doze: ele vale dez pontos, farto de adjetivos, todos analisados cuidadosamente por ela. Como ela ama seu homem moreno, tão belo e tão seu!<br />
<br />
Na quinta-feira, depois que ele sai, vestindo terno impecável, Elisabete prepara-se para ir às compras. Ajeita os óculos sobre o nariz pequeno, calça confortável tênis e veste a velha calça jeans que tão bem disfarça a largura de seus fartos quadris. Prende os cabelos com presilhas plásticas, apanha a lista de compras e parte satisfeita para o supermercado.<br />
<br />
Hoje é dia de comprar queijos, salgadinhos e cerveja para o programa de fim de semana, quando devem receber alguns amigos para jogar buraco. Raramente saem para ir ao cinema, mas, o que fazer dependerá exclusivamente da vontade dela. O que ela preferir, ele fará com o maior prazer, porque a ama e a sexta-feira é toda dela. Elisabete considera se uma mulher de sorte.<br />
<br />
Ela sente-se muito feliz em razão do carinho que ele lhe dedica e dos mimos que lhe faz. Por outro lado, ela se assume como viga mestra da casa, tomando ao colo seu menininho sempre que algo sério o aborrece no trabalho ou algum outro tipo de problema lhe acontece ou quando a insônia o molesta ou ainda quando, durante o jogo de futebol, um adversário <i>tranqueira</i> lhe chuta as canelas. <br />
<br />
Tomam café juntos todas as manhãs, aproveitando para discorrer sobre amenidades: um ou outro tópico da atualidade, uma ou outra fofoca sobre celebridades ... O bastante para que ela reconheça o quanto ele é bem informado e sabe transmitir lhe com clara visão uma síntese do panorama político e cultural do país.<br />
<br />
Ela se tem por mulher de firmes convicções, já leu alguma coisa sobre o direito de acesso à informação por parte das mulheres. Tanto que, na próxima eleição vai votar em uma mulher, qualquer uma delas.<br />
<br />
Entende um pouco de planejamento familiar, assim como o Papa ela é contra os métodos anticoncepcionais não naturais e inteiramente a favor da moral cristã. É contra o aborto, o divórcio, a pílula, os preservativos e os gays. <br />
<br />
Acredita que hoje em dia as mulheres estão se desvalorizando demais, aproveitando sua liberdade para dar pra qualquer um.<br />
<br />
Terminadas as compras no supermercado aporta seu carrinho em frente ao caixa e saca com rapidez e habilidade o seu talão de cheques.<br />
<br />
Após escrever por extenso a cifra total, apõe com prazer sua bem desenhada assinatura na linha inferior. Anota o valor no canhoto mas não faz a dedução.<br />
<br />
Do seu talão de conta conjunta não consta o saldo atual porque é ele quem controla a movimentação; a ela cabe apenas gastar.<br />
<br />
O que mais uma vez demonstra o cuidado dele para com ela. Cálculos, ele os faz. Cuidar do lar já dá a ela tanto com que pensar que seria abuso da parte dele acumular sua mulherzinha com desnecessárias tarefas. <br />
<br />
Ele sempre pensa nela em se tratando de dividir responsabilidades. Elisabete curte horrores o barato de ser bem casada e dar sempre para um homem só!<br />
<br />
Sai do supermercado e retorna ao seu castelo doméstico sem maiores preocupações.<br />
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Aos sábados ela acompanha seu ídolo ao campo de futebol, onde irá exibir a perícia de grande jogador, surpreendendo com sua velocidade e presteza nos arremates, matando a bola no peito, disparando fortes tiros, marcando gols.<br />
<br />
Se acontecer dele ser expulso de campo por algum juiz ladrão, Elisabete erguerá o queixo contrariada, despejando palavras rudes de defesa convicta a favor de seu atleta injustiçado.<br />
<br />
Porém, ela prefere ao esporte das manhãs de sábado os saraus musicais das tardes de domingo, quando, ao invés da bola, seu ídolo versátil encanta mais uma vez e surpreende a todos ao tocar cintilante bateria.<br />
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Elisabete senta se confortavelmente ao lado de seu copo de refrigerante e entrega se ao mister de admirar extasiada seu homem moreno a enfrentar com maestria os címbalos e os taróis.<br />
<br />
Seus íntimos sonhos, produtos inconscientes da distante adolescência, manifestam se impetuosamente e ela reencontra o príncipe encantado: alto, charmoso e elegante, catalizador das mais ricas qualidades que só os jogadores profissionais de futebol nos anúncios de produtos esportivos são capazes de destacar.<br />
<br />
Ela suspira diante do astro resplandencente. Como a lua diante do sol ela mesma se ilumina e enriquece, num misterioso ato de pura alquimia.<br />
<br />
Neste sublime instante pontuado pelo <i>hierosgamos</i> (o casamento sagrado), enquanto ele vibra os metais e fere os tambores vigorosamente, ela enfim compreende que o Dr. Eic Berne está certíssimo quando diz: você está OK, eu estou OK!<br />
<br />
Elisabete sente se próxima ao nirvana. Porém, percebdendo que outras mulheres da platéia também se excitam diante do talentoso músico, passa a agitar sua mão esquerda para que todas compreendam, vendo o faiscante brilho de sua aliança, que ela é a única dona do belo astro, fonte dos seus prazeres e da sua realização.<br />
<br />
Outros dias passam como um trenzinho que passa. Puííí ... piuííí ...<br />
<br />
A vida segue e Elisabete viaja na vida sem sair do seu lar, protegida e amada pelo seu homem forte. Raras mulheres são felizes como ela, plenamente satisfeita em todas as suas necessidades, guardada dos perigos de um mundo de trabalhos exaustivos, de sofismas e de enigmas atordoantes.<br />
<br />
Para que escalar montanhas se Elisabete já há muito jogou fora a bandeira que poderia fincar no topo?<br />
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Tudo o que lhe importa é sentir se amada e protegida. Para sempre.<br />
<br />
O trenzinho segue sem parar, apitando: Piuííí ... piuííí ...<br />
<br />
Nele seguem Elisabete e seu homem forte rumo a um futuro desconhecido e imprevisível. Mas, para ela, o importante é o agora, onde ela desfila contente, com manto e coroa, de braço dado com o seu namorado. <br />
<br />
Piuííí...??<br />
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***<br />
<br />
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<i>Esta história pode ser considerada um conto de fadas, e, como tal, cheia de alegorias, mas exatamente por isso, existir no imaginário de muitas mulheres ativas e inteligentes</i>.Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-30867486091503701152010-07-06T14:30:00.000-03:002010-07-06T14:30:38.447-03:00Casamento: opção, condição ou ilusão?Algumas mulheres desejam casar se, outras não. Porém, vestidos de noiva, buquês, igreja e alianças fazem parte do imaginário feminino. <br />
<br />
Algumas delas ingressam na nave matrimonial inebriadas por fantasias primordiais e acabam enredadas nas supostas regras de bom comportamento para esposas, concubinas e afins; regras que, mesmo sem que as mulheres percebam, são introjetadas, atuando no espaço familiar, onde o triângulo básico: marido, esposa e, quase sempre, filho, irá atuar conforme o tom de inevitabilidade determinado pelos mitos. Para equilibrar ou, definitivamente, desestabilizar a dinâmica, poderá surgir a força complementar do quadrado: o amante.<br />
<br />
<b>O que você estaria disposta a fazer para manter e/ou salvar seu casamento?</b><br />
<br />
Aqui não vamos entrar em detalhes sobre o que se entende por <b>casamento</b>, tal a flexibilidade da relação matrimonial nos dias de hoje e também pelo alto nível das exceções contratuais nela consideradas.<br />
<br />
O que você vai ler são pequenos contos alegóricos sobre algumas mulheres casadas, comprometidas, cada qual de uma forma singular, com <b>seu projeto </b>matrimonial, o que não significa exatamente aí incluir a consulta da contraparte igualmente interessada (o marido) sobre os desejos e expectativas dele quanto à vida matrimonial de ambos.<br />
<br />
Leia e faça sua reflexão. São pequenas histórias bem humoradas.Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-66144306392151909302010-07-01T00:01:00.006-03:002016-06-19T15:58:25.141-03:00Pânico 6 - Viagem ao centro de si mesmoO ressentimento pelo abandono afetivo, real ou simbólico, é uma das causas da ferida que o fóbico, na sua construção imaginária de não ser "bom o suficiente" para merecer os suprimentos afetivos essenciais e por, equivocadamente, buscar conquistá-los através do perfeccionismo e da auto-exigência, negando seus instintos e afastando-se de si mesmo, acaba por não permitir que seja curada, mas antes, permite que ressurja na desrealização do evento do pânico.<br />
<br />
Não é o mundo <i>lá fora</i> que assusta, mas o mundo <i>aqui dentro</i>, fragmentado e desconectado do <i>ser interior</i>; a falta de domínio sobre si mesmo e a desconsideração da capacidade da mente para enfrentar as aflições da vida através de um diálogo interior significativo, baseado em raciocínio e intuição, este sim capaz de orientar para a compreensão e administração do mundo "lá fora", e principalmente para o reconhecimento e a identificação de si mesmo.<br />
<br />
Pã, tão feio, primitivo e instintual, rejeitado com horror pela sua mãe, a ninfa Dríope, reaparece para assustar aqueles que têm medo de si mesmos porque reprimem a vida instintual e perdem o contato essencial com seu centro.<br />
<br />
Para se viver uma vida plena torna-se necessário saber realmente quem se é; descobrir seu centro e retornar para ele. Trata-se de um processo: identificar, confrontar, re-significar e integrar.<br />
<br />
<b>Viagem ao centro de si mesmo: recuperando o contato perdido.</b><br />
<br />
A partir de agora descrevo algumas ações que podem ser conscientemente dirigidas para se entender e controlar as crises de pânico. Antes, visite neste blog: Mandala, o círculo mágico.<br />
<br />
1. A Mandala<br />
<br />
Mandalas são <b>símbolos</b> que brotam do interior da mente. <br />
<br />
"Jung, pela experiência pessoal e pelo seu trabalho junto aos pacientes, observou o mesmo motivo de mandalas surgindo espontaneamente quando a psique estava em processo de reintegração em seguida a momentos de desequilíbrio. (...) Jung viu que em seus pacientes esquizofrênicos, 'os símbolos de mandalas aparecem com frequência em momentos de desorientação psíquica, como fatores compensadores da ordem.' ( ...) <b>Concluiu ele que a mandala é um arquétipo da ordem, da integração e da plenitude psíquica, surgindo como esforço natural de autocura." <br />
</b>(Moacanin, Radmila. A Psicologia de Jung e o Budismo Tibetano. Ed. Cultrix/Pensamento, 1986)<br />
<br />
O evento fóbico é um movimento de dispersão da mente, um momento de desorientação, conforme lemos acima, e que carece de reorganização das energias psíquicas. <br />
<br />
Ao desenhar mandalas, conscientemente orientadas, é possível produzir resultados como: reencontro com o centro nuclear (eutimia), (re)equilíbrio emocional, fortalecimento da mente através do autoconhecimento (identificação dos seus pontos vulneráveis, complexos, etc), abrandamento dos eventos fóbicos e até mesmo a desejada dissolução da fobia.<br />
<br />
Finalidade de desenhar mandalas conscientemente orientadas: produzir alterações benéficas na mente e no comportamento, experimentar sentimentos e emoções de qualidade superior. <br />
<br />
As mandalas se originam no inconsciente coletivo e por isso mesmo quando desenhamos mandalas conscientemente orientadas remetemos à sua fonte originária padrões de ajustamento, organização, transformação, interação e integração, entre outros.<br />
<br />
<b>1º Passo</b>: desenhar uma mandala espontânea.<br />
<br />
Material: papel sulfite, lápis preto e lápis de cor. <br />
<br />
Procure uma ambiente calmo onde possa ficar sozinho para fazer o exercício.<br />
<br />
Respire fundo, solte o ar devagar. Relaxe. Repita 3 vezes.<br />
<br />
Desenhe um círculo a lápis sobre papel sulfite.<br />
<br />
Dentro deste círculo desenhe livremente o que lhe vier à cabeça. Use lápis preto ou lápis de cor para desenhar, à sua escolha.<br />
<br />
Deixe se guiar pela intuição; você pode <b>escolher</b> desenhar apenas dentro do círculo ou extrapolar as margens, etc. Este é o seu desenho, faça como <b>sentir</b> que deve fazer.<br />
<br />
Ao terminar, respire novamente. <br />
<br />
Sinta se <b>deseja</b> acrescentar alguma coisa. Mas não apague nem faça qualquer correção.<br />
<br />
Admire seu desenho: <b>ele é a manifestação visível de uma verdade invisível</b>.<br />
(A seguir, próximo passo.)Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-49510959992263058682010-05-28T20:38:00.007-03:002010-06-30T17:16:40.144-03:00Pânico 5 - Segunda ReflexãoAnalise com franqueza a sua relação pessoal com as fobias e considere a dinâmica entre você, seus sintomas e as pessoas de seu convívio pessoal. <br />
<br />
Você deseja realmente superar estas fobias? <br />
<br />
Você as utiliza para seduzir, manipular e chantagear pessoas, e até mesmo para realizar pequenas ou grandes vinganças?<br />
<br />
Suas respostas:<br />
<br />
NÃO. Eu não desejo verdadeiramente livrar-me de meus sintomas. <i>Gosto</i> deles, estou acostumado, quase adaptado aos surtos freqüentes.<br />
<br />
Eu admito sinceramente fazer uso e abuso desta <i>minha</i> neurose favorita e, “ por favor, vamos deixar tudo como está. Resolvi ler este texto apenas por curiosidade, afinal, leio TUDO sobre a síndrome do pânico...”<br />
<br />
SIM. Eu desejo verdadeiramente retomar minha vida em plenitude, obter equilíbrio e autoconfiança. <br />
<br />
<br />
Se você respondeu sim, começo desde agora a compartilhar com você os procedimentos que utilizei e que ainda utilizo, em raras, porém necessárias vezes, para lidar com o pânico e com outras fobias, até ao ponto em que definitivamente neutralizei o mecanismo do medo irracional, assumindo total responsabilidade pela minha vida.<br />
<br />
Aprendi que somente a prática perfeita leva à perfeição. Comecei a exercitar a mente como se fosse simplesmente um <i>músculo</i>. Algo assim próximo ao que a neurociência chama de <i>neuróbia</i> (ginástica para o cérebro: cérebro ágil e saudável = mente ágil e saudável). A prática a que me refiro, entretanto, relaciona-se com a <b>qualidade</b> dos pensamentos, trata de <b>intenção e ação conscientes</b> de selecionar a <b>qualidade</b> do que você pensa e pensar corretamente, de acordo com seu propósito e arbítrio.<br />
<br />
Este é um exercício em que parte do ego observa e a outra parte experimenta. Logo a resistência tende adiminuir e você será capaz de estabelecer uma medida correta (eutimia), ou, pode mesmo considerar como <i>breaking even point.<br />
</i><br />
O exercício é composto de duas ações principais: <br />
<br />
1) <b>escolha</b> ter pensamentos felizes; (pensamento feliz é aquele que te faz <b>sentir</b> pleno, saudável, cheio de amor.) <br />
<br />
2) pratique <b>conscientemente</b> pensamentos saudáveis; virtuosos, alegres, orientados para a esperança e o otimismo. <br />
<br />
Como qualquer outro exercício, este também exige força de vontade, disciplina e dedicação.<br />
<br />
Simultaneamente, você deverá vigiar a qualidade do que pensa e a qualidade do que diz; mensagens bruxas e demais pragas podem pôr tudo a perder.<br />
<br />
Para garantir bons resultdos recomendo a abstenção de lamúrias, críticas e maledicências. Pense positivo, sinta e emocione-se <b>construtivamente</b>. <br />
<br />
Use estas três ações conjuntamente para produzir energia suficiente para transformar sua vida para melhor. Não se esqueça, só você tem esse poder. Use-o.<br />
<br />
Após algum tempo de prática saudável e vigilância responsável, você terá formado um bom hábito e gozará de melhor saúde física e mental. Mas, ao invés de músculos poderosos, terá obtido mente sadia (e mais fértil), <b>self</b> luminoso e <b>ser interior</b> em conexão.<br />
<br />
Este novo padrão vai lhe permitir esquivar-se conscientemente de idéias intrusas e da recorrência das mensagens bruxas; a comprometer-se com você mesmo e a assumir o comando de sua mente, pois que a mente do fóbico, como uma nau à deriva, anseia em aportar, mas descrê da possibilidade de conter-se a si mesma e de conduzir-se rumo às escolhas adequadas. Você descobrirá como voltar-se para si mesmo com afeto, dedicação, interesse e com a aceitação dos seus limites e falibilidade.Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-91809969262023408412010-05-20T23:08:00.003-03:002010-05-28T19:12:47.616-03:00Pânico 4 - a reflexão necessáriaReflita sobre seus sentimentos e suas emoções em relação às fobias que tem.<br />
<br />
Lembre-se: <br />
<br />
<i>Sentimento</i> é ato ou efeito de sentir; aptidão para sentir; percepção. <br />
<br />
<i>Emoção</i> é abalo moral, perturbação. <br />
<br />
<br />
<br />
(Por exemplo: você costuma sentir tristeza e isso pode fazê-lo sentir raiva de si mesmo. Tristeza é um sentimento, raiva é uma emoção.)<br />
<br />
Pensamento e emoção são percepções que decorrem da mobilidade mental das pessoas. O cérebro jamais para de trabalhar e se manifesta através do pensamento; a função do cérebro é pensar, refletir, calcular, imaginar...<br />
<br />
Você pode escolher entre dois tipos de pensamentos:<br />
<br />
pensamentos <b>construtivos</b> e pensamentos <b>destrutivos</b>.<br />
<br />
Vale lembrar que:<br />
<br />
Quando você pensa, você sente.<br />
<br />
Quando você sente você reage.<br />
<br />
Quando pensa, você produz resultados como alegria, saudade, fé, simpatia, ânimo, prazer, esperança, solidariedade, amor, ternura, gratidão, altruísmo, antipatia, solidão, desencanto, ciúme, raiva, desprazer, ressentimento, inveja, desgosto ... <br />
<br />
O único poder de controle que você possui é o de controlar seus próprios pensamentos. Você pensa o que quiser, do modo que desejar, e ninguém pode impedi-lo. <br />
<br />
Você é a <b>única pessoa</b> a ter o mais absoluto controle sobre os seus pensamentos. <br />
<br />
Pensar corretamente é uma habilidade que pode ser adquirida através da vontade e da prática constante. Portanto, use sua mente para manifestar a sua vontade de pensar construtivamente. Pensar adequadamente é algo assim como substituir pensamentos em preto e branco por pensamentos coloridos.<br />
<br />
Lembre se de que pensamento alegres produzem como resultado alegria, ânimo e esperança. Pensamentos tristes produzem desânimo, mágoa e tristeza.<br />
<br />
Temos então a seguinte proposição:<br />
<br />
Pensamento construtivo = emoção boa = vida emocional equilibrada<br />
<br />
Pensamento destrutivo = emoção ruim = vida emocional em desequilíbrio<br />
<br />
Por analogia:<br />
<br />
Fobias são resultado de emoções em desequilíbrio e são produzidas inicialmente por pensamentos destrutivos. Por exemplo, se você pensa sinceramente que não é capaz de dar conta de viver sua vida com plenitude, pode ter a certeza de que não será.<br />
<br />
<br />
As imagens e os pensamentos que vão habitar a nossa mente são criados por nós mesmos. Tanto as imagens quanto os pensamentos têm uma função; devem ter mobilidade para ir a algum lugar dentro de nós e para produzir resultados dentro e fora de nós.<br />
<br />
A energia que faz com que nossos pensamentos e as imagens que criamos mentalmente produzam efeito chama-se desejo, e este desejo provem do nosso sentir. O sentimento é a simples percepção de um pensamento; já a emoção é o resultado produzido pela imagem ou pensamento percebidos.<br />
<br />
Posso pensar que alguém não gosta de mim (constatação subjetiva que poderá ser verdadeira ou falsa), sentir desagrado por isso e reagir com antipatia.<br />
<br />
Todos nós nos conduzimos pelas percepções subjetivas do campo externo, o que propicia uma larga margem de informações distorcidas, elaboradas em nosso imaginário. Afinal, se eu acredito que uma certa percepção é verdadeira, penso que é verdadeira e reajo coerentemente com meu pensamento, não necessariamente correspondo com a realidade.<br />
<br />
Bons ou maus sentimentos, boas ou más emoções são resultado de nossos pensamentos, da forma saudável ou doentia com que alimentamos o nosso imaginário e construímos a nossa realidade. É recomendável ter atenção com os cuidados dispensados à mente consciente, uma vez que ela é a porta de entrada para muitos dos danos causado ao inconsciente, porque este, mal cuidado e mal abastecido com imagens e pensamentos enfermiços, poderá produzir abalos no corpo físico na forma de doenças orgânicas e emocionais. <br />
<br />
Construa sua casa com bons tijolos e a sua mente com bons pensamentos.Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-75131512863111977342010-05-20T22:36:00.000-03:002016-06-19T15:59:28.321-03:00Pânico 3 - Você deseja realmente superar sua fobia?Muito bem. Eu e você sabemos as dores verdadeiras e insuportáveis de um fóbico. Quantos e que complexos rituais são elaborados na ânsia de controlar os atos da vida e principalmente de tentar impedir, através da evitação, a repetição dos assustadores eventos de pânico. <br />
<br />
Se o primeiro episódio aconteceu em um shopping, evito voltar lá. Assim, começo a me defender, evitando os lugares que considero bichados, e transfiro para o mundo exterior a ameaça que existe dentro de mim.<br />
<br />
<br />
A dinâmica familiar se altera consideravelmente. Não apenas você não viaja mais. Os familiares mais próximos, cônjuge e filhos especialmente, também passam solidária e compulsoriamente a sofrer com suas restrições auto impostas.<br />
<br />
Vale notar que alguns fóbicos aprendem a utilizar suas fobias como uma extremamente útil ferramenta de manipulação. Eles fazem alegações pretensamente embasadas, mas que na verdade repousam escoradas em seu viés nosológico. <br />
<br />
Pode ocorrer, algumas vezes, que o fóbico admita querer viver uma vida normal, que busque tratamento e terapia para conseguir superar as fobias, mas que também delas faça uso como justificativas oportunas.<br />
<br />
Alguns aprendem a manipular sua neurose com vistas a obter ganhos vicinais, produzindo um discurso em que o transtorno extrapola os aspectos patológicos para surgir como manifestação de um narcisismo primário.<br />
<br />
<i> ‘Gostaria muito de fazer esta viagem de navio, mas não posso. Tenho pânico, sabe? ... (Preciso de cuidados especiais, dê-me sua atenção, faça a minha vontade).' <br />
<br />
</i><br />
Partindo destas considerações, se você é alguém que tem experimentado o transtorno do pânico e deseja pôr um fim nas restrições e no sofrimento que ele produz em sua vida, cabe aqui a pergunta: <br />
<br />
<br />
Você <b>deseja realmente</b> superar suas fobias?Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-6960250103994564252010-05-20T22:22:00.000-03:002016-06-19T16:00:33.742-03:00Pânico 2 - palavras de um neurótico bem humoradoNesta época atendi a todas as prescrições médicas, como você, leitor, caso tenha vivido essa experiência, deve também ter atendido. <br />
<br />
O caso é que os eventos do transtorno do pânico voltaram a ocorrer repetidamente, fazendo da minha vida um inferno ... e este não preciso descrever porque aquele que sofre de fobias sabe perfeitamente a dor que sente e a que mudanças drásticas se submete a partir da ocorrência do primeiro transtorno, no intento de controlar eventos recorrentes. <br />
<br />
Inúmeras restrições são incorporadas à sua rotina. Na verdade, as exceções viram rotina.<br />
<br />
Lugares a que se deixa de ir, por serem muito abertos ou muito fechados: cinemas, teatros, parques, praças públicas, estacionamentos...<br />
<br />
Nada de túneis, elevadores ou escadarias . Ficar sozinho, nem pensar. É preciso ter alguém sempre por perto para o caso de precisar de ajuda. Com a intenção de se sentir resguardado, o fóbico elege um amigo ou parente para seu acompanhante nas saídas impreteríveis, passando a manipular a dinâmica familiar por meio de suas necessidades (?) especiais, submetendo os mais próximos a uma incorporação mimética dos seus comportamentos extravagantes.<br />
<br />
As construções do imaginário fluem aos borbotões e os temores mais esdrúxulos pipocam por todo lado: medo da mínima possibilidade de ser mortalmente infectado por vírus e bactérias, de vir a ser picado por ofídios e insetos peçonhentos, de ser atacado e mordido por algum cão ou até mesmo de ser atacado por um leão em pleno centro da cidade. <br />
<br />
Medo da remota possibilidade de ser seqüestrado e, pior, medo de ter algum ente querido envolvido em alguma tragédia. Medo, medo, medo. O fóbico é, antes de tudo, um ser humano vulnerável até a medula, incapaz de pensar e de sentir construtivamente. Ao seu redor, tudo parece incerto e perigoso. <br />
<br />
Chuvas, raios, temporais, ciclones e <i>tsunamis</i> passam a justificar a evitação de viagens de férias em praias, no campo, nas montanhas.Também parecerá prudente evitar viagens de trem, navio, avião, ônibus, carro ou bicicleta. Festas e reuniões, depende de onde e de quantas e quais pessoas vão estar lá. Ficar próximo à porta, nesses casos, é de bom alvitre. Nada mais adequado ao fóbico do que uma boa rota de fuga. Na hora em que quiser ir embora (escapar?) já estará com um pé na estrada ....Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-54174159222303132352010-05-20T20:47:00.002-03:002016-06-19T16:01:47.604-03:00Você tem medo de quê?Depoimento: Ano 1980; dona de casa, 32 anos, casada, dois filhos. <br />
<br />
“Vivi a primeira experiência com o medo repentino, ainda não conhecido como transtorno do pânico, quando fazia compras em um supermercado perto de casa.<br />
<br />
Um terror repentino. O mais absoluto pavor se apossou de minha mente e fui arrastada por forças desconhecidas para um espaço escuro, gélido, sem contornos. Precipitei-me no vazio, sentindo algo parecido com o torpor de um desmaio, mas, curiosamente, sem perder a consciência.<br />
<br />
Tive por certo que estava morrendo. Senti- me prestes a desaparecer, a experimentar a total dissolução da minha individualidade. Mesmo assim, assaltada pelo medo intenso, fui capaz de observar o mergulho vertiginoso do meu corpo lançado com fúria nos trilhos de uma montanha-russa virtual. <br />
<br />
Simultaneamente, eu era o sujeito e o observador desta experiência. Eu me percebi como alguém lutando pela posse de sua razão, mas esse alguém não mais era eu. Não me reconhecia como lúcida, apesar de poder descrever com precisão, como faço agora, os eventos fantásticos que ocorriam no meu corpo e na minha mente. O medo estava dentro e fora de mim, eu sabia, mas não sabia mais quem eu era e porque sentia um medo assim avassalador.<br />
<br />
Desespero existencial: sentir a angústia da falta de pertença, nenhum vínculo com o mundo, sequer consigo mesma; perder os contornos, tornar-se matéria difusa ... ameaçada por um poderoso inimigo oculto e aprisionada dentro da própria mente. Empreender a fuga é o primeiro comando do instinto, ineficaz, porém. <br />
<br />
<br />
Ser nada, absolutamente nada. Aí está a maior angústia e o maior assombro: permanece a mente como observadora de si mesma enquanto paradoxalmente o corpo se desfaz e a consciência se esvai.<br />
<br />
Como em um sonho, o ego onírico surge como única testemunha da experiência de alguém perdido nos meandros do pânico. <br />
<br />
<i>‘Sinto que vou morrer (escrevi em meu diário, logo após os primeiros eventos de pânico). Sinto até mesmo que morro, durante aqueles minutos eternos. Ainda assim, a dor maior não é morrer, mas testemunhar a própria morte e ali ficar, eu mesma abraçada ao meu corpo exânime, a sofrer o absurdo de uma experiência quase extra- sensorial, vivida até a última fagulha das forças’.<br />
</i><br />
<br />
A sensação mais constante é a de sufocação, enquanto se cai vertiginosa e infinitamente, escorrendo não sei por onde, em direção à boca escancarada de um buraco negro sugador.<br />
<br />
<br />
Os eventos tornaram-se constantes. Eu era então levada para o pronto socorro mais próximo e após alguns exames, prontamente liberada. Nada grave: estresse, provavelmente. Nada conclusivo também. Os sintomas, ainda que vigorosos, rapidamente se dissipavam. Nenhum dano físico ou orgânico.<br />
<br />
Restava sempre a humilhação de voltar para casa após mais um <i>fricote</i>. Eu me tornara a <i>esquisita</i>, a <i>doida</i>."Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-11480731998521774362010-05-14T20:46:00.003-03:002013-03-17T16:49:09.905-03:00Análise de caso real O homem vem debruçando-se ao longo do tempo sobre o mundo dos fenômenos, em busca de significados apropriados, de interpretações acuradas, tanto quanto tem se exaurido na produção de significantes que possibilitem construir explicações ontológicas para o universo, este sim, sempre atual, atuante e efetivamente mais rápido e eficaz que a mente humana, na elaboração de efeitos psico-físicos, que talvez mais não sejam que um reflexo de si mesmo. <br />
<br />
<br />
O mundo fenomenológico parece estar aí simplesmente porque está aí; sem finalidade, sem razão de ser, sem objetivo específico, embora permita uma observação continuada por parte do homem, este fenômeno auto-nomeado observador, possuidor talvez de um espírito auto-consciente, possivelmente um observador continuamente observado.<br />
<br />
Quando a velocidade da luz é já ultrapassada dentro de um acelerador de partículas, continuamos a submeter a consciência humana a recorrentes considerações: haverá um movimento linear chamado tempo, um fluxo contínuo de energia chamado pensamento, uma dicotomia entre um saber interno (consciente e inconsciente) e um saber externo, uma metapsicologia que explique a palavra, esse evento psicofísico ao mesmo tempo maravilhoso e corriqueiro? Uma topografia que configure o fenômeno chamado universo? Talvez Alice se perguntasse: Há quanto tempo estou aqui? Onde é aqui?<br />
<br />
Alguns deficientes auditivos não falam porque não ouvem; não há como repetir o modelo acústico. E eu, penso porque falo? Ou falo porque penso? Pergunto-me se é possível experimentar o saber em uma sociedade que impõe práticas sistemáticas para a aquisição de conhecimentos. A quebra de paradigmas deverá obedecer a uma metodologia? Poderei eu mesma analisar as configurações de minha consciência? Os conteúdos de meu inconsciente?<br />
<br />
Na verdade, fascinante é fazer perguntas. Respostas são acidentes de percurso, possibilidades variáveis, versões ptolomaicas passíveis de alterações...<br />
<br />
<br />
<br />
“A Garota Saraiva”<br />
(Análise de Caso)<br />
<br />
<br />
A personagem faz interpretações por si mesma ao longo da história e exibe sintomas que indicam deslocamentos, de modo a impedir o transbordamento da energia que busca irromper imperiosamente como resultado de constantes frustrações.<br />
<br />
Seu organismo encontra-se recortado pelo psiquismo; manifesta fobias, angústias e dores físicas e emocionais. <br />
<br />
O sofrimento psíquico aflora no organismo através de uma terceira instância, possivelmente chamada psicossomática. Os mecanismos bioquímicos acionados são postos a serviço do psiquismo, e nesta contramão, o inconsciente assume a gestão do pequeno feudo da consciência, com danos constantes à saúde do organismo.<br />
<br />
O corpo, porque deprime, modifica o trânsito das funções biológicas e as pulsões assumem-lhe o ser, ignorando o domínio fisiológico do organismo e submergindo-o compulsoriamente.<br />
<br />
O ego retira-se para a profundeza abissal, arcaica, diante da explosão dos afetos; a persona infantil se apossa da cena e "descreve" livremente a "sua" realidade, conforme sinopse produzida pelo imaginário.<br />
<br />
Ela tenta baixar o nível alto de ansiedade cantando repetidamente canções infantis, à guisa de mantras capazes de afugentar seus fantasmas e de restabelecer o equilíbrio das funções orgânicas e emocionais.<br />
<br />
Quando os afetos vêm à tona, o consciente acende o sinal de alerta e ela volta-se reiteradamente para a racionalização como mecanismo de defesa, o que faz o tempo todo no curso da história.<br />
<br />
Suas falas trazem imbuída uma pergunta não manifesta, mas onipresente: onde fica a saída?<br />
<br />
Percebe-se também que ela reprime um discurso aprisionado, castração oriunda talvez não apenas da energia sexual estanque, mas de um ímpeto criativo que deseja manifestar-se em plenitude através de trocas regulares de afeto, o que não ocorre em um único momento na história.<br />
<br />
Ela exibe uma solidão compartilhada apenas com suas reminiscências - os outros personagens interagem entre si, mas nunca com ela, com exceção do pai, o interlocutor objeto de seu amor mas também de raiva deslocada e não expressada (reprimida).<br />
<br />
<br />
Não há alívio para a dor do alegado abandono; sentida, ressentida e cristalizada por força da fala da figura materna através de mensagens bruxas.<br />
<br />
A imagem da mãe aparece como fonte difusa de amor e de acolhimento, mas à pessoa real correspondem alheamento e indiferença, percebidos e vivenciados pela garota através das experiências descritas. <br />
<br />
O sentimento de inveja e ciúme é direcionado para a estreita relação do irmão com a mãe , não propriamente para estas pessoas.<br />
<br />
Sente inveja do vínculo que eles, supostamente, tão satisfatoriamente experimentam e do qual sentiu-se sempre excluída; vínculo que tenta justificar racionalmente como defesa e recusa em admitir ambivalência (amor e ódio, e também culpa, remorso, talvez mesmo um certo prazer oriundo de "tanta dor") ; a morte do primeiro irmão, ainda bebê e o posterior nascimento do caçula.<br />
<br />
Ao longo da história, ela manifesta reiteradamente a sua inadequação ao meio familiar, o peso da culpa imposta , não justificada, porém assumida como procedente; uma última tentativa de obter significado na dinâmica da instituição parental.<br />
<br />
Ela se mostra perceptiva das ações e reações de cada um no espaço familiar. Apaixonada pelo pai, deseja a parecênça como a mãe. <br />
<br />
Não desenvolve o seu potencial; antes, dedica-se a "colecionar" conhecimentos (informações), na convicção de que assim conseguirá visibilidade entre os seus (talvez realizar o desejo de tornar-se um caroço de romã).<br />
<br />
Os desejos reprimidos, sendo um deles o de tornar-se “ um caroço de romã”, e assim obter aceitação, reconhecimento e identificação com a sua "tribo", vão produzir através do recalque, a manifestação de diversas neuroses.<br />
<br />
As cantigas infantis monocórdias, construções fantásticas e pacificadoras do espírito humano, repetidas ao longo dos eventos descritos, evidenciam a necessidade de superar a sensação de queda no vazio, de fragmentação do self, o que decorre não só do complexo de rejeição , ponto crucial revelado nas primeiras palavras da mãe, quando, grávida, segundo afirma, 'teve a criança rejeitada pelo pai'.(Mensagem bruxa)<br />
<br />
<br />
Da ambivalência surge o primeiro fantasma: o pai que escolhe um nome de rainha para a filha posteriormente rejeitada.<br />
<br />
A mãe, que aparece sempre às voltas com o filho caçula, é a figura idealizada com a qual ela deseja parecer-se, cujo lugar lhe apetece por ser garantia da conquista do amor paterno e do espaço de prestígio naquela família.<br />
<br />
Deseja também assumir-se como protetora daquele “filho caçula” sempre incensado e, desse modo, quem sabe, se apoderar do falo faltante para escapar da fantasia de castração (e quiçá se apropriar do suposto poder da “mãe castradora”).<br />
<br />
A mãe demonstra desinteresse pelo pai, sinaliza que o lugar de consorte estaria vago e introduz a figura paterna com acentuado desvalor na constelação familiar, para a qual a trilogia do Complexo de Édipo traz uma quarta personagem catalisadora: o caçula que, entretanto, na descrição que lhe faz a irmã é sempre objeto e jamais sujeito na dinâmica familiar. Na casa em que "reina a rainha", segundo palavras da garota, o cetro real é personificado por este menino-objeto, fonte do poder e realização da mãe má. <br />
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O texto se divide em três partes: <br />
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1) a garota narra a história na primeira pessoa, balizada por seus afetos e mecanismos de defesa; <br />
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2) produz questionamentos e traça considerações unilaterais (a história se desenrola no universo imaginário); <br />
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3) como observadora, postada a uma distância que (supostamente) permita isenção, procura apenas descrever as experiências de medo, abandono, rejeição, desamparo e morte vivenciadas por uma adolescente sob o jugo dos instintos e em trânsito para a inserção cultural. <br />
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Assim como na saga de Édipo, mesmo com "pés inchados", o caminhar para Tebas é compulsório. A superação da história funesta poderia ter se realizado, talvez, com um pouco do humor e das cores utilizadas por Offenbach em suas leituras musicais dos mitos gregos. O texto é contido, sintético e sem grand finalle.<br />
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O caso exibe aparentemente duas realidades, dois pontos de vista, não divergentes mas levemente distorcidos pelo fluxo do sofrimento psíquico. A terceira parte de que o texto se constitui é aparentemente pouco significativa. Enlaça com tons de fantasia as pulsões espalhadas pelos parágrafos; amarra com laços, nunca com nós, a convicção da garota de que através de palavras mágicas é possível apagar eventos para que não continuem “acontecendo na mente e ferindo no corpo”.<br />
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As cantigas infantis surgem como condão para acesso ao mundo mágico, igualmente adverso e ameaçador, um recurso dolente para alinhavar a paz interior. São como a prece que se faz guiando-se pelas contas de um terço e que se pode continuar rezando sempre, em círculos, sem parar, obsessivamente, em infinito movimento urobórico.<br />
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As cantigas parecem aliviar sua angústia. A palavra, oral ou escrita, permite ao inconsciente produzir a auto-cura através da manifestação e decodificação simbólica de seus conteúdos.<br />
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É perceptível um movimento pendular significativo na forma e no ritmo com que elabora o texto. Rezar e cantar; a díade mágica pontua o ritual através do qual ela procura afastar assombrações.<br />
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Laplanche, Jean<br />
Vocabulário da psicanálise/Laplanche e Pontalis; sob a direção de Daniel Lagache; tradução Pedro Tamen. - 4ª. ed.- São Paulo: Martins Fontes, 2001.<br />
Fenichel, Otto<br />
Teoria psicanalítica das neuroses / Otto Fenichel; tradução Samuel Penna Reis; revisão terminológica e conceitual Ricardo Fabião Gomes.- São Paulo: Editora Atheneu, 2004.Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-52888521832649388572010-05-14T19:21:00.000-03:002013-03-17T16:48:38.618-03:00Complexo de Édipo - caso realA GAROTA SARAIVA<br />
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“Frustrar alguém no amor é a mais terrível decepção;<br />
é uma perda eterna para a qual não há<br />
compensação na vida ou na eternidade.” <br />
(Kierkegaard)<br />
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Lembro-me do dente colocado embaixo do travesseiro. Ouço ainda meu grito de alegria ao encontrar a moeda que a fada azul deixou para mim no lugar daquele precioso dente de leite.<br />
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“... com Deus me deito, com Deus me levanto...”<br />
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Conta minha mãe que papai encantou-se tanto com o meu nascimento que escolheu para mim um nome de rainha e, no dia exato em que nasci, 12 de outubro, dia da criança, comprou o mais lindo enxoval cor-de-rosa e inundou o quarto do hospital com laços, rendas e fitas e muitos sorrisos de felicidade pela chegada da filha primogênita.<br />
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Minha mãe também sempre dizia:<br />
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“Nem parecia o mesmo homem que, ao saber da gravidez, encheu-se de ira, rejeitou a mim e a criança. Era sempre assim, não podia me ver grávida que mudava da água para o vinho.”<br />
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Dois anos após o meu nascimento nasceu outro menino e morreu aos seis meses. Logo após nasceu outro menino, que vingou, substituindo o primeiro. Mas eu permaneci a filha dileta porque tinha muita parecença com meu pai, tipo físico, habilidades, jeitos peculiares... o que vim a descobrir ao longo da vida.<br />
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“ Ela é a cara do pai.” repetia minha mãe, o que me agradava, embora desejasse ser também como ela, bela e comunicativa. “Meninos são mais parecidos com a mãe. Meu marido é muito inteligente, mas antipático, não sabe se comunicar com as pessoas.” Acrescentava ainda: “ Na minha família somos diferentes: alegres, sociáveis, bem humorados.” Eu desejava ser também alegre e bem humorada como ela.<br />
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O que sabe sobre si mesma? Atravessou momentos contundentes em sua vida, erupções recorrentes que, embora devastadoras, produziam uma dor difusa, mas que doía muito e o tempo todo. Ela reagia para jamais se acostumar com aquela dor. Muitos aluviões ficaram presos em sua história, ao mesmo tempo em que partes de si mesma foram arrancadas pelo vento forte demais ou pela exigência de desejos que não eram os seus. O que restou, inacreditavelmente, se transformou em tecido depurado, embora com alguns buracos. Algo como o tule de náilon que algumas noivas exibem em seus casquetes. Há também as latinhas, (iguais àquelas arrastadas pelos carros dos recém-casados) que fazem um barulho insuportável, as quais, infelizmente, quase se acostumou em arrastar.<br />
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“O que eu quero para mim?”<br />
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Tem por hábito elaborar pequenos rituais para afugentar os fantasmas da sujeição e procura encontrar nela mesma um meio de desatar esse nó fincado bem no meio do seu sossego. Na tentativa de desviar-se de emoções oportunistas trazidas pela angústia, procura uma forma de explicação para as suas inquietações, que seja asséptica e indolor, já que, definitivamente, não quer experimentar sofrimento, mas quer descobrir a verdade, seja lá o que for a verdade.<br />
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Antes, o que é a realidade? Ela sempre se acreditou uma garota sensata, apesar da sua luta contínua entre ilusão e realidade para descobrir em que momento do tempo repousa a menina do enxoval cor-de-rosa. Em que momento ela se transformou em filha e passou a externar as características de criança adaptada? Teriam seu comportamento, gestos e desejos se formado a partir de um suposto gancho cultural, na verdade um viés normativo para o pleno exercício do poder do outro? <br />
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“Sou o que penso que sou?”<br />
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Esta pergunta tem sido o agente provocador da sua história, o norte na busca de uma convicção sobre si mesma; convicção que seja decorrente de íntimas questões antitéticas, contraditórias, intercambiantes .... mas que possa produzir a ferramenta adequada para abrandar a dor de ser o que lhe dizem para ser. Dor que não quer mais. Servem-lhe apenas as dores decorrentes da trajetória do herói, estas se dispõe a experimentar, porque serão resultado de alguma autonomia, de sua ousadia e, claro, de um pouco do desígnio dos deuses, porque esses, estarão sempre em volta para dar palpites. Ela quer participar da elaboração do roteiro da própria vida; livre arbítrio, lhe parece, é transcender a determinação de ser mortal. Seja qual for o caminho, embora Cloto e Átropos sejam irredutíveis, com Láquesis sempre será possível negociar. Já está de bom tamanho essa invariância subjacente de ser mulher, branca, brasileira e míope somada a este mim onipresente, chamado inconsciente , real condutor das muitas ações que praticamos na vida.<br />
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“Por que faço o que faço?” <br />
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A dúvida traz consigo a necessidade de compreender a si mesma e ao outro, sabendo perfeitamente que outro é um universo, coletivo, contraditório e que ela pode ter se equivocado na identificação do desejo alheio.<br />
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“... cai cai balão, cai cai balão, aqui na minha mão...”<br />
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Que maravilhosa experiência , aos nove anos de idade, poder assistir ao balé O Lago dos Cisnes no Teatro Municipal de S. Paulo. Meu irmão era muito pequeno para nos acompanhar, minha mãe não se agradava de clássicos, daí fomos juntos, eu e meu pai. Recordo as luzes mágicas, o tapete vermelho, as escadarias, as pessoas vestidas com roupas de festa, falando baixo, movendo-se com vagar, elegantes nos modos e nas falas. <br />
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Os registros musicais e as luzes coloridas tiveram um efeito de mágica sobre mim principalmente quando pontuaram a entrada no palco de Odila, o cisne negro. À intensidade dos acordes juntava-se a voz sussurrante de meu pai, explicando-me baixinho cada detalhe daquela que era a sua peça favorita. Naquela noite eu me senti importante por ser merecedora da atenção do meu pai, fonte de segurança e amor.<br />
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Disse minha mãe, e muitas outras coisas dissera, na contra mão das minhas convicções, que meu pai era bruto como marido, não sociável, nem amigo nem acolhedor. Segundo ela, mais defeitos que qualidades tinha. Ainda assim era ele quem comprava nossas roupas e brinquedos e fazia bolos de fubá salpicados com sementes de erva-doce. A mim ensinara, entre muitas outras importantes lições, como dobrar o jornal sem amassar para poder ler folgadamente. Eu lia as notícias sobre política e depois nos sentávamos os dois, a mesa do café para trocar opiniões. Minha mãe detestava estes agradáveis momentos de nós dois.<br />
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Aos 12 anos li Germinal e assisti a Flor de Pedra, belíssimo filme russo premiado. Mergulhava com grande prazer no mundo intelectual descortinado por meu pai por sentir que minha facilidade em aprender o tornava orgulhoso e sabia que somente eu podia causar-lhe esta alegria já que meu irmão era pequeno demais para participar destes momentos e à mãe pouco interessavam nossas incursões culturais. Assim, desde cedo freqüentei teatros, museus, participei de eventos que naturalmente me levaram a adquirir conhecimentos incomuns para uma menina de pouca idade. Tais saberes me fascinavam e através deles eu obtinha a admiração de meu pai. Lembro-me também de que, embora não desse muita importância a nossos passeios, minha mãe tinha sempre o cuidado de me vestir adequadamente; mesmo pequena eu usava saias pregueadas, sapatos de verniz e boinas coloridas, de acordo com a formalidade necessária ao se comparecer aos concertos do Teatro Municipal de São Paulo. Muitas vezes, no retorno a casa, após um longo dia de andanças por algum museu, era trazida ao colo, sonolenta, descalça, pés inchados, como qualquer outra criança depois de uma festa.<br />
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“... boi, boi da cara preta, pega essa menina que tem medo de careta...”<br />
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Nossa família mudou-se muitas vezes, era sempre difícil pagar o aluguel, mudávamos para casas sempre menores e mais baratas, até que de São Paulo nos mudamos para Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.<br />
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O clima quente fez melhorar a saúde de todos, muito embora os conflitos entre mamãe e papai viessem a agravar-se até ao ponto em que ela decidiu separar-se .<br />
Todavia, antes de intentar uma separação legal, resolveu fugir de casa, levando na mão direita apenas uma mala, e o filho caçula pela outra mão. Por obra do acaso ou de alguma Moira muito atenta, chegava eu mais cedo da escola quando dei de encontro com os fujões.<br />
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“Onde vão?”<br />
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“Às compras.”<br />
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“Vou junto!”<br />
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Ela tentou dissuadir-me; em vão. Pressentí o perigo, o vazio, o rompimento, o abandono, enfim, todos os vagões assombrados puxados por aquela maria-fumaça que constituía a minha família; nós quatro vivendo juntos e ao mesmo tempo separados pelos nossos interesses contraditórios e afetos estanques; tão pouco sabíamos uns dos outros ... <br />
<br />
Com a roupa do corpo, um vestido branco bordado de joaninhas vermelhas, me lembro bem, sem mala nem esperança, lá fui eu atrás daquele par que não me reconhecia como parte de suas vidas e que também não se agradava de minha companhia. Mesmo assim, fui junto. Mãe e filho tinham sido sempre como sementes de romã, grudadinhos, indispensáveis um ao outro como pulmão e oxigênio, ele nascera como que para compensá-la da morte do primeiro filho. Eu tentava compreende-los, mas na verdade não compreendia, e experimentava ciúmes por não participar de seus códigos. Ferida e assombrada, ainda assim fui junto realizar a fuga que não era minha e para a qual sequer fora convidada.<br />
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Ficamos dois dias em casa de parentes em São Paulo até que meu pai veio buscar-nos entre lágrimas de reprovação e queixas de intensa amargura. Como pudera eu, filha tão querida, não tê-lo avisado da fuga e, além do mais ter acompanhado a mãe no seu ato irresponsável? Conivente, não sabia o que significava até aquela hora, mas sabia que não era isso, essa palavra doía, ele não percebia? Minha mãe, ocupada com suas próprias dores, nada disse na noite daquele reencontro, nem nas outras noites que se seguiram depois que voltamos para nossa casa. Senti uma grande vontade de ir embora, mas não sabia para onde, então não fui.<br />
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A família se reuniu feito um cacho de uvas, cada qual dependurado em separado no frágil cabinho, embora eu ainda identificasse minha mãe e meu irmão como caroços de romã, sempre agarradinhos. <br />
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“ ... Nosce te ipsum..” Conhece a ti mesmo<br />
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Montanhas parecem pontes que permitem acesso aos deuses; lá de cima eles espiam os humanos, provocam mudanças em suas vidas, interferem em seus arbítrios, mas são apenas figuras míticas que pedem para ser decifradas, trazidas à luz e corajosamente confrontadas – e isto a garota não aprendeu nos livros que leu, mas nos contos que viveu. Fadas, como as bruxas, usam chapéu em formato de cone, usam varinhas, voam, proferem vaticínios, preparam poções e aspergem pozinhos mágicos... A garota está a procura de compreender esta parte de viagem rumo ao seu mito pessoal, livre dos parâmetros daquele pai soberano, cujo código normativo resta gravado nela mesma, ele que ainda hoje parece pedir para que ela seja a personagem que ele idealizou. Desejo dele, ao qual ela dedicou o maior empenho em corresponder. Se os homens criaram os deuses para abrandar a própria angústia acabaram angustiados por se virem controlados pelos deuses que criaram. Contraditório, por isso mesmo, humano. <br />
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Quer repassar os seus atos, reconsiderar os fatos vividos e, principalmente substituir o pensamento pela espontânea emoção e deixar brotarem as palavras, e, através das palavras, expressar a sutileza da verdade que, lhe parece, não é mais que um volátil fonema na sutil marcação de uma diferença quase imperceptível mas definitivamente contrastante como ocorre, por exemplo na frase: de fato há um gato no mato. Sem dúvida, fonemas são como duendes brincalhões, escondem coisas, exibem outras coisas, mudam as coisas de lugar só para nos fazer correr atrás. <br />
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Brincava com as palavras: saudade, sal, idade, amor, romã, mãe, pão, sustento, suporte, pai, vai, sai, cai, daí?<br />
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Meu pai era o rei naquela casa, embora mamãe reinasse efetivamente, porque ela tinha emprego quase sempre e o pai eventualmente ; eu entendia que quem tem o dinheiro tem o poder, portanto parecia justo que as ordens viessem através da rainha. Mas não, não parecia justo, tanto que estes procedimentos me causavam uma mistura de inveja, raiva, muita zanga e pouco amor. Neste caldo cozinhava meus medos e como defesa investia minhas energias nos estudos, crente que boas notas escolares me fariam merecedora do afeto, respeito e consideração daqueles que tanto amava e que às vezes também odiava. Nesta fase eu muito desejava ser um caroço de romã.<br />
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“... ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar...”<br />
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Passados cinquenta anos continuamos unidos por um dogma estático, reafirmando a ideação fantástica de que o outro é o inferno; minha velha mãe, senhora respeitável, declama versos bíblicos aos ouvidos indiferentes dos familiares mais jovens, o filho caçula, hoje advogado, desfruta os louros da alta posição social e a professora de Filosofia continua às voltas com livros e alunos, garimpando explicações para a inquietação existencial do ser humano, que sempre deseja, mas nem sempre sabe o que quer. Meu pai faleceu há alguns anos, mas isso é fato, e fatos não compõe a história do cacho de uvas, nem da romã. Nossa história presente não traz fatos, nem identifica responsabilidades, mas denuncia a defesa incondicional que fazemos de nossas convicções e a negação sistemática dos movimentos mesquinhos que realizamos ininterruptamente ao longo de nossas vidas, separados no amor, mas entrelaçados pelas Eríneas, indiferentes ao fato de que o Amor, a Tristeza, o Ódio, a Raiva e o Ciúme são irmãos, nascidos no mesmo instante do esperma de Urano. Dissimulados, refugiados dentro das fatiotas sociais , tentamos em vão ocultar a feiúra das nossas humanas emoções exacerbadas e dedicamos a maior parte do tempo a alardear as nossas verdades e a lançar sobre o outro toda a sorte de acusações.<br />
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“... atirei o pau no gato mas o gato não morreu ...”<br />
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Fomos deixados por um tempo em casa de parentes, dada a difícil situação financeira da família. Éramos bem alimentados, brincávamos, disputávamos tudo o que de bom havia na casa dos parentes, inclusive o amor quentinho da tia, apesar da saudade de papai e mamãe. Doía também ouvir do tio: “É sempre assim. O chopim põe os ovos no ninho do tico-tico e ele que se vire pra criar.” Eu e meu irmão sabíamos quem eram os filhotes de chopim mas isso não tirava o nosso apetite.<br />
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A garota sentia necessidade de pertencer a alguém, a algum lugar. Havia primeiramente a vontade, quase um instinto, de sobreviver por si e de existir para si mesma, ser ao mesmo tempo o barro e o oleiro; moldar-se, elaborar um destino próprio na medida do possível, e, por que não, à essa altura dos acontecimentos, extrair de si mesma o que de mais precioso tinha, verdes sementes de amor, em qualquer medida, na medida do impossível até. O amor da mãe, não percebido pela filha, provavelmente estava lá, atávico, entalhado no totem familiar.<br />
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Após o preparo de um ano entre orações, leituras da Bíblia, jejuns e confissões de pecados que sequer praticara, a garota habilitou-se ao ritual da primeira comunhão, direito de usar vestido branco e de incorporar um renascimento às avessas.<br />
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A mãe usara suas economias para comprar o vestido branco, bem mais simples que o modelo indicado pelas freiras, poucos bordados, nenhuma renda e para a cabeça o casquete mais barato. Ao invés de véu de seda, um tule grosseiro que pinicava a face ao lhe roçar, detalhe que não passou despercebido pelas outras meninas, uma delas de imediato partindo para o deboche:<br />
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“ Esse véu furado mais parece um mosqueteiro.”<br />
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A garota, na imediata resposta, ergueu a vela que segurava e a quebrou na cabeça daquela que debochava. Restou-lhe ainda a humilhação de, durante toda a cerimônia, equilibrar a vela quebrada, presa agora apenas por um barbante, e que a cada passo seu, caía de lado, como se imitasse um insuportável desmaio.<br />
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“... Deus, ondes estás? Será que também te escondes? ...”<br />
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As crises entre o casal cresciam em número e intensidade. Para a mãe, fugir não fazia mais sentido, era preciso formalizar a separação: o desquite era inescapável. O pai, desempregado outra vez, destituído de poder, exaurido na sua posição de chefe daquela família, agarrou-se <br />
aos filhos como únicos e derradeiros suportes de sua vida naufragada. A garota sabia que o pai sofria muito diante da possibilidade de separação; sofria ela também por ele e por si mesma, pois entendia que ela e o irmão eram partes vulneráveis neste desenlace. O que seria dos chopins? Despossuídos de um lar, de responsáveis capazes de ocupar-se com suas crias, as duas crianças eram não mais que testemunhas de duelos vazios em que as partes se agrediam mutuamente na ânsia de provar cada um as suas razões, exigindo contemplar a sua interpretação como verdadeira.<br />
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“ ... o cravo brigou com a rosa ...”<br />
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Eu adorava ir à praia; sol, calor, luz, alegria. Mas não naquela noite, quando meu pai nos levou para a beira da praia; fazia frio, estava escuro e eu sentia medo. Acho que meu irmão também sentia. Eu estava com 13 anos, tirava boas notas na escola e tinha muita vontade de ser feliz.<br />
Meu pai sentou-se ao nosso lado no banco da praia de Copacabana, pegou na minha mão e olhou nos meus olhos assustados com os seus olhos tristes e o peso daquele olhar suplicante caiu sobre mim como uma avalanche de pedras:<br />
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“Você é a mais velha. Você tem que convencer sua mãe a mudar de idéia. Não podemos separar a família. Fale com ela. Faça com que desista da separação.”<br />
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A maré estava na vazante e ia levando com ela as lágrimas dos olhos verdes do meu pai querido e as minhas lágrimas salgadas que escorriam sem eu nem bem compreender porque. Até que se derramou a frase inesquecível:<br />
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“Se ela não mudar de idéia vou dar guaraná com veneno para vocês dois e depois vou tomar também.”<br />
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As luzes dos prédio em frente ao mar, o doce sabor do guaraná tantas vezes experimentado, o gosto amargo do fracasso trazido para ela, o não perceber pelo pai que aquela responsabilidade colocada sobre os ombros da garota era fardo insuportável e que não lhe pertencia.<br />
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“Cabe a você resolver este problema. Posso falar com ela, mas não sei se posso convencê-la. O guaraná ... eu não vou beber. Nem vou deixar você dar para meu irmão .”<br />
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Ainda estão lá em frente à praia um homem e duas crianças, congelados em um tempo que não flui jamais. Eles não mais se movem, mas não param de sofrer. <br />
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Nesta noite a garota com nome de rainha foi esvaziada de suas últimas esperanças e a família dividiu-se, posto que já dividida estava; o pai mudou-se para outra cidade levando nos braços seu filho agora predileto e a garota, sabe-se lá porque, ficou com a mãe no mesmo apartamento, na mesma cidade. Foi uma divisão arbitrária, mero truque de duendes perversos, pois a partir daí todos migraram para insuportáveis terras geladas e sombrias.<br />
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Nunca mais nos olhamos nos olhos, meu pai e eu, nunca mais nós quatro deixamos de culpar uns aos outros, nunca mais nos permitimos a paz. As águas do mar tornaram-se amargas para mim; minha mãe lamentava a ausência do filho querido, meu pai ocupava a infância de meu irmão com as suas verdades e, tendo este filho pequeno como forte vínculo entre o casal, de certa forma reconstruíram seus afetos e tentaram satisfazer suas necessidades. De minha parte procurei construir a família que idealizei exemplar. Casei, tive filhos, descasei, procurei por mim mesma entre aqueles que amei sem perceber que estava à procura de alguém que me explicasse o balé, me colocasse no colo e que prometesse me amar para sempre. Para tanto, fui disciplinada, trabalhadeira e estudiosa e, tanto desejei acertar, que me tornei rígida e controladora. Quase sempre tirei nota 10 mas quando terminava a prova via que todos os outros alunos já estavam no pátio do recreio. <br />
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“ ... nana nenê que a cuca vem pegar...”<br />
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Depois de alguns anos morando em São Paulo meu pai casou-se outra vez e mudou-se para lugar incerto e não sabido, com devida exceção para o filho, que o visitava regularmente. Segredos às vezes são mal guardados ou intencionalmente ventilados. Enfim, alguém disse que talvez morasse em alguma pequena cidade no interior de Goiás. Nada mais. Para mim, estes movimentos sinalizavam recorrente abandono, uma sentença de banimento sempre reiterada.<br />
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Certa manhã de nem sei quando meu filho telefonou avisando:<br />
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“O vô morreu.”<br />
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“Morreu como, onde? O que aconteceu?”<br />
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“Um acidente, parece, quando passeava de barco em Ubatuba.”<br />
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“E o que mais?”<br />
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“Mais nada. O enterro foi em São Paulo, mas quando eu cheguei ao cemitério todos já tinham ido embora. Inclusive meu tio.”<br />
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Assim morreu Moacyr outra vez, abraçado com seu desgosto, velado por seu único filho e por sua viúva jovem.<br />
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Não me lembro de ter chorado, apenas quedei-me encantada na varanda da casa, os olhos sombreados pela boina vermelha, cansada e sonolenta como criança à espera de colo. Lembrei-me dos cisnes de Tchaikowisky, cujo canto é derradeiro, véspera da morte, assim como dos olhos verdes, perdidos no tempo, e que agora ressurgiam por breve instante, apenas para reafirmar a recusa de um perdão que eu tanto busquei, mas que não reparei, dele não precisava a minha inocência. Estranho êxtase esse da morte sabida mas não reverenciada, pela falta de um corpo presente a ser velado; funeral simbólico de alguém que morreu e com ele levou algo de mim que também morreu e, por eu ser ninguém diante deste pai agora definitivamente ausente, talvez possa enfim gozar a redenção de ser eu mesma.<br />
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“ ... o balão vai subindo, vai caindo a garoa ...”<br />
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<br />
Se meu pai deixou bens, isso também não sei. Mas se me fosse dado escolher uma peça de herança sua pediria o livro que ele escreveu e jamais publicou: O Garoto Saraiva, sua biografia de menino órfão criado em colégio interno, educado para ser padre mas conquistado pelo amor da mulher que lhe deu uma filha para quem ele escolheu um nome de rainha.<br />
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“... uni, duni, tê ... salamê, minguê ... ”Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-49381026248610816092010-05-13T08:59:00.002-03:002016-06-19T16:03:00.583-03:00SÍNDROME DO PÂNICO - O mito se mostra verdadeiro quando você experimenta a transformação.O Mito<br />
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Há várias versões para o mito do deus grego Pan.<br />
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Segundo uma delas, o deus Pan é filho de Zeus com sua ama de leite, a cabra Amaltéia.<br />
<br />
Pan é um deus de forte libido, primitivo e natural. Tem torso e cabeça humanos; pernas, chifres e orelhas de bode. Deus fálico, mas também músico sensível, galanteador, seduzia as ninfas dos bosques, não pela beleza, que não a tinha, mas com belas palavras e boa música.<br />
<br />
Pan, na mitologia grega, é o deus dos bosques, dos rebanhos e dos pastores.<br />
<br />
Morava em grutas e passava os dias correndo atrás das ninfas. Os pastores se assustavam com os ruídos provocados por ele e com a sua figura assustadora; daí o nome pânico para medo súbito e imotivado, uma vez que Pan não causava dano algum aos pastores ou aos viajantes que costumavam atravessar a floresta.<br />
<br />
A palavra pânico deriva desse deus, metade homem, metade bode, porque causava, com sua correrias, medo repentino (irracional) naqueles que precisavam adentrar seu território.<br />
<br />
Pan queria apenas divertir-se, correr atrás das ninfas e tocar sua flauta.<br />
<br />
<i>A flauta de Pan</i><br />
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<br />
Diz a lenda que Pan apaixonou-se pela belíssima ninfa Syrinx, mas que teve seu amor rejeitado por ela.<br />
<br />
Syrinx fugiu da feia criatura e foi pedir ajuda às náiades, as ninfas dos rios, que imediatamente a transformaram em uma discreta moita de bambus.<br />
<br />
Pan perseguiu Syrinx até as margens do rio e quando supõe agarrá-la, abraça apenas os bambus e ouve somente os sons produzidos pelo vento a soprar através das partes ocas da planta. <br />
<br />
Pan encanta-se com aqueles sons; corta alguns bambus em tamanhos diferentes e inventa a flauta à qual dá o nome de Syrinx, em homenagem à amada, e que mais tarde será chamada <i>flauta de Pan</i> em honra ao deus apaixonado.<br />
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Sob a feiúra do deus Pan se oculta um coração sensível, capaz, não só, de atos primitivos como a perseguição às ninfas, mas também de gestos românticos como prestar homenagem à amada inacessível.Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-19509282124337733232010-05-12T17:53:00.004-03:002010-06-01T21:49:59.978-03:00Porta D'água - Poemas e fragmentos do livro NUAPanta Rei - (tudo flui)<br />
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Depois que a gente vive um bocadinho<br />
Aprende lento, bem devagarinho<br />
Quanta surpresa rude a vida traz<br />
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Descobre entre a alegria e o devaneio<br />
Decepções que vêm se fazer meio<br />
De nos doer na alma e nos roubar a paz<br />
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Depois que a gente vê e vive o sofrimento<br />
A gente cresce e vê o mundo diferente<br />
Como se fora a partir de tal momento<br />
Um outro mundo<br />
E neste mundo<br />
Uma outra gente.Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-78073289234187910922009-07-03T22:54:00.007-03:002016-06-19T16:03:48.055-03:00Mitologia e TerapiaEspaço Livre - Estudos Psicanalíticos<br />
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Encontros Terapêuticos<br />
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Módulo 1<br />
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Desenhando Mandalas - os efeitos benéficos e pacificadores das mandalas; seu uso prático na superação de fobias (síndrome do pânico). <br />
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Módulo 2<br />
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Deusas da Lua e o Sagrado Feminino - a mulher e suas fases. Identificar a multiplicidade do perfil feminino nas suas manifestações aparentemente contraditórias, antagônicas e paradoxais, através das deusas da lua Ártemis, Selene, Hécate e Lilith; Phoebe e Leto. Identificar e comparar as diversas deusas da lua: desde a prosaica deusa Selene até a intensa e primitiva deusa da lua negra Lilith. <br />
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Módulo 3<br />
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Conflitos entre mães e filhas e avós: a repetição como destino? Mensagens bruxas, tão frequentes no discurso materno, podem ser identificadas pelas filhas e não repetidas aos seus filhos, de modo a não corromper essa relação de amor, mesmo que pautada pela ambivalência. (Deméter e Perséfone; Medusa, a mãe má.)<br />
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Através da mitologia é possível construir novos caminhos para a aquisição de auto-conhecimento, identificar razões de muitas de nossas dificuldades emocionais e ao mesmo tempo desenvolver novos padrões de comunicação que venham a facilitar uma vida conscientemente auto-dirigida.Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7733419782086800013.post-65397106916254347142009-07-02T22:15:00.012-03:002010-05-13T08:55:12.937-03:00Afinal, o que deseja uma mulher?Filósofos, poetas, psicanalistas, muitos homens têm procurado compreender e explicar o que deseja uma mulher.<br />
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Deusa poderosa, anjo misterioso, bruxa sorrateira, Eva ardilosa, sereia sedutora, estas são algumas das "faces elaboradas de mulher, sempre a atrair 'pobres' homens para os descaminhos do prazer e da perdição".<br />
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Mil mistérios rodopiam no imaginário masculino, reproduzindo nos homens a intensa perplexidade de Adão, que, fraco e inseguro, foi queixar-se ao Todo Poderoso: "Senhor, a mulher que Tu me deste induziu-me ao erro, ofereceu-me a maçã e eu comi."(Eximiu-se da culpa responsabilizando a mulher pelo "pecado" que ambos cometeram.)<br />
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Certo é que a mulher é possuidora dos mistérios da vida, dos ciclos da terra e da lua. A mulher recebe a semente do homem dentro da sua carne no ritual mais sagrado que existe: o Hierosgamos(a união do Sol e da Lua, na Alquimia).<br />
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A mulher concebe e faz amadurecer o fruto dentro de si, nutre-o e no tempo certo dá à luz. Este é o grande poder da Deusa, também chamado de Sagrado Feminino.<br />
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São atributos do Sagrado Feminino a intuição mais sutil, o sexto sentido mais apurado, a compaixão, a transmutação e o amor. <br />
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Sem dúvida o maior amor é aquele de uma mãe por seu filho. (Lembremo-nos do amor incondicional de Dânae, Deméter, Virgem Maria, entre tantos, e até mesmo da desconhecida mulher que clamava por seu filho diante do sábio rei Salomão, visto que disputava com uma impostora o seu direito materno.)<br />
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Nos dias atuais, porém, não mais celebramos os rituais do Sagrado Feminino - os rituais da menarca, do primeiro encontro sexual, do casamento como convergência de almas e não de conveniências sociais, da chegada da menopausa clamando por mais reflexão e menos lipoaspiração ... nos dias atuais assistimos, atônitos, ao desequilíbrio das almas e dos corpos femininos, ao nosso afastamento melancólico do inconsciente coletivo.<br />
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Atualmente, muitas mulheres passaram a fazer uso dos valores e estruturas de controle patriarcais, os mesmo que criticaram e combateram na sua luta (justa) por direitos iguais. <br />
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Elas talvez não percebam o processo de mimetismo no qual estão se envolvendo; a repetição do arcaico modelo masculino: alta competitividade, crítica exacerbada, atitudes inflexíveis, discurso e performance copiados do padrão masculino de agir.<br />
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Parece que a mulher do século XXI "chutou o pau da barraca": não apenas busca igualar-se ao homem em direitos, oportunidades e valorização, como também resolveu extrapolar nos abusos, e de oprimida passar igualmente a opressora.( Talvez seja esta apenas uma fase de transição, espero...)<br />
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O comportamento reativo desta mulher corre o risco de transformar o homem, de companheiro e ajudador, em acessório obsoleto, já que muitas delas hoje demonstram orgulho equivocado em manusear furadeiras, trocar lâmpadas queimadas, em abrir para si mesmas as portas do sucesso, em pisar os tapetes da autonomia com os pés aristocratas de quem se basta! Capazes até mesmo de congelar seus óvulos com vistas a supostas e heróicas produções independentes...<br />
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Falo em tendências atuais, em fortes e recorrentes mudanças de comportamentos, que nos levam a considerar, diante do desencontro mítico entre o Sol e a Lua, "Para que serve um homem?" (na vida destas 'mulheres com super poderes'), em contraponto à famosa pergunta feita por Freud: "Afinal, o que deseja uma mulher?"<br />
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O que saberá uma mulher sobre o seu desejo e a sua vontade?<br />
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Apesar dessa "revolução comportamental" as mulheres conservam ainda<br />
sua feminilidade. Anseiam por carinho e por sexo prazeroso, ombros aconchegantes, ouvidos interessados, olhares de admiração, sorrisos de aprovação e manifestação inequívoca de amor e comprometimento, fidelidade e segurança emocional e material. <br />
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Desejosas de seus companheiros, indagam, paradoxal, sincera e surpreendentemente: "Por onde andam os homens que valem a pena? Onde está o alfa líder"<br />
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Talvez fechados "para balanço". Solteiros, casados e descasados parecem assustados com tantas demonstrações de auto-suficiência feminina.<br />
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Não podemos nos esquecer de que os homens tem seus sentimentos e emoções, os quais esperam sejam considerados; também desejam consistentes trocas afetivas, não apenas 'aquilo' que as mulheres imaginam, mas, claro, 'aquilo' também.(Ainda bem...)<br />
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E por onde andam as amigas confidentes?<br />
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Talvez em busca de um tempo para entender o porquê da inveja, da fofoca e da falta de apoio mútuo que permeiam as relações pessoais e socias (competitivas) das mulheres atuais, ou, quem sabe, também estejam embaraçadas nos novelos das suas próprias conquistas equivocadas, não dispondo de tempo para fortalecer amizades.<br />
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O fato é que as mulheres tem corrido atrás do sucesso, deixando para trás a vitória que é conquistar não apenas "o pão nosso", mas também a porção suficiente de contentamento para cada dia.<br />
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Dia que pode ser cor-de-rosa, dedicado às trocas espontâneas de afeto, à contemplação de si mesma, ao permitir-se o aflorar da intuição e da sensibilidade, e ao deixar-se levar pela doce magia do Sagrado Feminino, porque onde existe amor não existe disputa pelo poder.<br />
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No mito de Eros e Psiquê é essencial o apoio de Eros para que a humana princesa Psiquê venha a transformar-se em deusa no Olimpo. Da integração entre o Animus e a Anima nasce Prazer (ou Êxtase) a filha de ambos os deuses Eros e Psiquê.<br />
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E viveram felizes para sempre ...<br />
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"O meu amado meteu a sua mão pela fresta da porta, e as minhas entranhas estremeceram de amor por ele." (Cantares de Salomão 5;4)Marina Régia Saraivahttp://www.blogger.com/profile/17284697219816374395noreply@blogger.com0