Eros e Psiquê.. e a sogra invejosa.
Psiquê é uma princesa que, em razão da grande beleza, desperta a inveja de Afrodite, deusa do amor e da beleza. Por esta razão, Afrodite decide enviar seu filho Eros (Cupido) para flechar a moça com suas setas mágicas, o que a faria apaixonar-se pelo primeiro homem que visse. Eros, entretanto, fascinado pela beleza da jovem, acaba por ferir-se com a seta e se apaixona por ela.
O deus a leva para um rico palácio e passam a viver em segredo. Ele passa as noites com sua amada mas, antes do raiar do dia, parte de volta à morada dos deuses, preocupada para que sua mãe não descubra o que aconteceu.
Vivem grandes momentos de felicidade, mesmo que Psiquê nunca tenha visto a face do amado, que a advertira para jamais tentar ver o seu rosto. Ela, entretanto, curiosa, desconhecendo a verdadeira identidade do rapaz, imagina que deva ser muito feio e decide observá-lo enquanto dorme, com auxílio de uma lamparina. Por descuido, deixa pingar uma gota de óleo quente sobre a face do deus. Eros acorda desesperado e vai embora a lamentar-se. "O amor não pode viver onde não existe confiança."
Esta afirmação dá início ao processo de transformação de Psiquê, a personificação da alma. O deus Eros experimenta a dor física e a moça se começa a vivenciar o sofrimento espiritual. Parte então em busca da ajuda dos deuses, porém nenhum deles se dispõe a ajudar a jovem mortal que ousou unir-se a uma divindade.
Resta-lhe pedir ajuda a Afrodite, a sogra ciumenta. Entretanto, apesar de seu gênio forte, Afrodite é sábia o bastante para buscar a conciliação. A deusa sabe que o fluxo da vida depende da união entre o Amor e a Alma, e por esta razão, a deusa mãe dominadora de Eros, baixa a guarda e se dispõe a dar uma oportunidade de redenção para a nora impetuosa. Mas desde de que esta aceite se submeter a quatro duras provas para mostrar se é merecedora do amor de seu filho.
Ao contrário dos contos de fadas em que o número três aparece como condutor das forças mágicas, o número quatro, simboliza a matéria e o esforço físico do trabalho, o mundo da humanidade de Psiquê, através do qual ela deverá avançar para conseguir cumprir as ordens de Afrodite.
São provas quase impossíveis de cumprir. Mas o amor que pulsa no coração da imprevidente Psiquê vai lhe permitir acessar os planos etéreos do espírito e aprender as quatro lições necessárias para reconquistar o amor de Eros - o que, sem dúvida, há de surpreender a maliciosa Afrodite.
A primeira prova pede discernimento. A sogra manda despejarem no chão quatro sacos de grãos: feijões, lentilhas, arroz e milho, misturando tudo muito bem, e ordena que, pela manhã Psiquê tenha separado todos os grãos e os recolocado nos sacos. Desesperada, ela clama pelas forças da natureza, e logo um exército de formigas se apresenta e separa os grãos antes do raiar do dia.
A segunda prova demanda criatividade. A jovem precisa recolher a lã de ferozes carneiros selvagens que pastam às margens de um rio. Alguns caniços que crescem à beira atendem às súplicas de Psiquê, e a orientam que espere o sol se pôr e quando os carneiros se deitarem para descansar que ela corra a retirar a lã que ficara presa nos galhos onde os animais se esfregaram durante o dia.
A terceira prova pede ampla visão antes de iniciar a tarefa. Ela precisa buscar a água da vida no alto de um penhasco. Enquanto observa a paisagem ao redor, vê uma águia planando e acaba por ver um caminho seguro entre os arbustos. Segue por ali até chegar à cascata e enche uma moringa com a água da vida. Estas tarefas e o contato com as forças da natureza fortalecem Psiquê, não mais a menina ingênua e inconsequente que deixou partir seu grande amor.
A quarta e derradeira missão é a mais difícil. Consiste em descer ao mundo de Hades, a terra dos mortos, e pegar a caixa onde está guardada a poção de beleza eterna de Perséfone. Com receio de morrer durante a empreitada Psiquê pensa em desistir da prova, quando então, vê à sua frente uma torre, dirigindo-se para lá em busca de abrigo.
A torre representa um conjunto de ideias, um eixo estrutural, uma construção humana que aproxima o mortal do divino. A torre orienta a jovem a manter o foco e ela consegue pegar a caixa de Perséfone.
Embora bem sucedida, tendo sido amparada por forças instintivas, adquirido discernimento, criatividade, ampla visão e foco, Psiquê perde-se outra vez pela curiosidade.
Ela abre a caixa da beleza eterna para encontrar ali sua última lição e a própria morte. A vida conduz a beleza ao envelhecimento; o que eterniza a beleza é a morte. (Em nosso imaginário flutua a beleza eterna de Marilyn Monroe e da Princesa Diana..)
Eros, o deus do Amor, vem em auxilio da esposa amada; leva-a em seus braços até a presença de Zeus, deus do Olimpo, a quem suplica por piedade.
Eros se humaniza na sua dor e Psiquê, a alma divinizada, adquire a imortalidade, transformando-se agora em deusa. Afrodite, deusa do amor e da beleza, recepciona o casal, que passa a viver no Olimpo, a morada dos deuses, e ali nasce Volúpia, a filha de ambos.
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