O menino e a ciência

O olhar extasiado do menino diante das realizações da ciência é um olhar meticuloso, objetivo, intenso e rigoroso; tem a precisão de um bisturi a cortar entre artérias; exibe a fascinação do discípulo diante da tutora exemplar e a mais absoluta confiança de que os cientistas atuam com extrema responsabilidade no que se refere à validade de seus métodos e às consequências de suas descobertas.

O rapaz se encanta e deixa seduzir pela competência metodológica da ciência na arte de produzir conhecimentos e de resolver os problemas humanos através de tecnologias espetaculares.

Auguste Comte, filósofo fundador do positivismo científico não previu o surgimento do mito do cientificismo. Mas a vestal encontra-se já assentada sobre o altar dos deuses, suas mãos generosas a distribuir verdades, seu discurso onipotente a seduzir os iniciados.

Ao filósofo, todavia, cabe observar e questionar os cientistas e os técnicos a respeito da função das tecnologias, dos benefícios que sejam capazes de proporcionar à humanidade. A ele cabe avaliar se o banquete oferecido pela ciência irá proporcionar liberdade com limites, satisfação ou alienação.

Mas o menino não tem tempo para ouvir o seu coração neste momento, ocupado que está ouvindo o troar do progresso. Em breve, recém saído dos campi, estará a caminho do “mercado”, formatado como mais um especialista, adestrado para tornar-se um “vencedor”, uma “fera” em sua área.

Por que não uma águia, olhos com zoom, flaps potentes, radares e uma tessitura humana cheia de afeto, bom humor, psicologicamente estável, capaz de planar sobre os picos e vales da natureza humana? ... entre gaivotas, pombas, eros e passarinhos.
Por que não?

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