Postagens

Mostrando postagens de 2010

Casamento: a história de Elisabete, a rainha do lar

Ela entra no quarto trazendo a xícara de café, percebe que ele está dormindo e fica por alguns segundos a admirar este seu homem moreno e cabeludo. O movimento do tórax largo e bronzeado mostra a respiração tranquila e os músculos, mesmo relaxados, denunciam a força de um corpo saudável, cuidado com boa alimentação e exercícios físicos que ele não dispensa. Ela muito se orgulha dele, da sua inteligência aguda, da sua capacidade de discernimento, seu poder de expressar-se com rara propriedade. Ela reconhece nele todas as qualidades que não encontra em si mesma. Juntos formam um doze: ele vale dez pontos, farto de adjetivos, todos analisados cuidadosamente por ela. Como ela ama seu homem moreno, tão belo e tão seu! Na quinta-feira, depois que ele sai, vestindo terno impecável, Elisabete prepara-se para ir às compras. Ajeita os óculos sobre o nariz pequeno, calça confortável tênis e veste a velha calça jeans que tão bem disfarça a largura de seus fartos quadris. Prende os cabelos c

Casamento: opção, condição ou ilusão?

Algumas mulheres desejam casar se, outras não. Porém, vestidos de noiva, buquês, igreja e alianças fazem parte do imaginário feminino. Algumas delas ingressam na nave matrimonial inebriadas por fantasias primordiais e acabam enredadas nas supostas regras de bom comportamento para esposas, concubinas e afins; regras que, mesmo sem que as mulheres percebam, são introjetadas, atuando no espaço familiar, onde o triângulo básico: marido, esposa e, quase sempre, filho, irá atuar conforme o tom de inevitabilidade determinado pelos mitos. Para equilibrar ou, definitivamente, desestabilizar a dinâmica, poderá surgir a força complementar do quadrado: o amante. O que você estaria disposta a fazer para manter e/ou salvar seu casamento? Aqui não vamos entrar em detalhes sobre o que se entende por casamento , tal a flexibilidade da relação matrimonial nos dias de hoje e também pelo alto nível das exceções contratuais nela consideradas. O que você vai ler são pequenos contos alegóricos sobre

Pânico 6 - Viagem ao centro de si mesmo

O ressentimento pelo abandono afetivo, real ou simbólico, é uma das causas da ferida que o fóbico, na sua construção imaginária de não ser "bom o suficiente" para merecer os suprimentos afetivos essenciais e por, equivocadamente, buscar conquistá-los através do perfeccionismo e da auto-exigência, negando seus instintos e afastando-se de si mesmo, acaba por não permitir que seja curada, mas antes, permite que ressurja na desrealização do evento do pânico. Não é o mundo lá fora que assusta, mas o mundo aqui dentro , fragmentado e desconectado do ser interior ; a falta de domínio sobre si mesmo e a desconsideração da capacidade da mente para enfrentar as aflições da vida através de um diálogo interior significativo, baseado em raciocínio e intuição, este sim capaz de orientar para a compreensão e administração do mundo "lá fora", e principalmente para o reconhecimento e a identificação de si mesmo. Pã, tão feio, primitivo e instintual, rejeitado com horror pela s

Pânico 5 - Segunda Reflexão

Analise com franqueza a sua relação pessoal com as fobias e considere a dinâmica entre você, seus sintomas e as pessoas de seu convívio pessoal. Você deseja realmente superar estas fobias? Você as utiliza para seduzir, manipular e chantagear pessoas, e até mesmo para realizar pequenas ou grandes vinganças? Suas respostas: NÃO. Eu não desejo verdadeiramente livrar-me de meus sintomas. Gosto deles, estou acostumado, quase adaptado aos surtos freqüentes. Eu admito sinceramente fazer uso e abuso desta minha neurose favorita e, “ por favor, vamos deixar tudo como está. Resolvi ler este texto apenas por curiosidade, afinal, leio TUDO sobre a síndrome do pânico...” SIM. Eu desejo verdadeiramente retomar minha vida em plenitude, obter equilíbrio e autoconfiança. Se você respondeu sim, começo desde agora a compartilhar com você os procedimentos que utilizei e que ainda utilizo, em raras, porém necessárias vezes, para lidar com o pânico e com outras fobias, até ao ponto e

Pânico 4 - a reflexão necessária

Reflita sobre seus sentimentos e suas emoções em relação às fobias que tem. Lembre-se: Sentimento é ato ou efeito de sentir; aptidão para sentir; percepção. Emoção é abalo moral, perturbação. (Por exemplo: você costuma sentir tristeza e isso pode fazê-lo sentir raiva de si mesmo. Tristeza é um sentimento, raiva é uma emoção.) Pensamento e emoção são percepções que decorrem da mobilidade mental das pessoas. O cérebro jamais para de trabalhar e se manifesta através do pensamento; a função do cérebro é pensar, refletir, calcular, imaginar... Você pode escolher entre dois tipos de pensamentos: pensamentos construtivos e pensamentos destrutivos . Vale lembrar que: Quando você pensa, você sente. Quando você sente você reage. Quando pensa, você produz resultados como alegria, saudade, fé, simpatia, ânimo, prazer, esperança, solidariedade, amor, ternura, gratidão, altruísmo, antipatia, solidão, desencanto, ciúme, raiva, desprazer, ressentimento, inveja, desgosto

Pânico 3 - Você deseja realmente superar sua fobia?

Muito bem. Eu e você sabemos as dores verdadeiras e insuportáveis de um fóbico. Quantos e que complexos rituais são elaborados na ânsia de controlar os atos da vida e principalmente de tentar impedir, através da evitação, a repetição dos assustadores eventos de pânico. Se o primeiro episódio aconteceu em um shopping, evito voltar lá. Assim, começo a me defender, evitando os lugares que considero bichados, e transfiro para o mundo exterior a ameaça que existe dentro de mim. A dinâmica familiar se altera consideravelmente. Não apenas você não viaja mais. Os familiares mais próximos, cônjuge e filhos especialmente, também passam solidária e compulsoriamente a sofrer com suas restrições auto impostas. Vale notar que alguns fóbicos aprendem a utilizar suas fobias como uma extremamente útil ferramenta de manipulação. Eles fazem alegações pretensamente embasadas, mas que na verdade repousam escoradas em seu viés nosológico. Pode ocorrer, algumas vezes, que o fóbico admita quer

Pânico 2 - palavras de um neurótico bem humorado

Nesta época atendi a todas as prescrições médicas, como você, leitor, caso tenha vivido essa experiência, deve também ter atendido. O caso é que os eventos do transtorno do pânico voltaram a ocorrer repetidamente, fazendo da minha vida um inferno ... e este não preciso descrever porque aquele que sofre de fobias sabe perfeitamente a dor que sente e a que mudanças drásticas se submete a partir da ocorrência do primeiro transtorno, no intento de controlar eventos recorrentes. Inúmeras restrições são incorporadas à sua rotina. Na verdade, as exceções viram rotina. Lugares a que se deixa de ir, por serem muito abertos ou muito fechados: cinemas, teatros, parques, praças públicas, estacionamentos... Nada de túneis, elevadores ou escadarias . Ficar sozinho, nem pensar. É preciso ter alguém sempre por perto para o caso de precisar de ajuda. Com a intenção de se sentir resguardado, o fóbico elege um amigo ou parente para seu acompanhante nas saídas impreteríveis, passando a manipu

Você tem medo de quê?

Depoimento: Ano 1980; dona de casa, 32 anos, casada, dois filhos. “Vivi a primeira experiência com o medo repentino, ainda não conhecido como transtorno do pânico, quando fazia compras em um supermercado perto de casa. Um terror repentino. O mais absoluto pavor se apossou de minha mente e fui arrastada por forças desconhecidas para um espaço escuro, gélido, sem contornos. Precipitei-me no vazio, sentindo algo parecido com o torpor de um desmaio, mas, curiosamente, sem perder a consciência. Tive por certo que estava morrendo. Senti- me prestes a desaparecer, a experimentar a total dissolução da minha individualidade. Mesmo assim, assaltada pelo medo intenso, fui capaz de observar o mergulho vertiginoso do meu corpo lançado com fúria nos trilhos de uma montanha-russa virtual. Simultaneamente, eu era o sujeito e o observador desta experiência. Eu me percebi como alguém lutando pela posse de sua razão, mas esse alguém não mais era eu. Não me reconhecia como lúcida, apesar

Análise de caso real

O homem vem debruçando-se ao longo do tempo sobre o mundo dos fenômenos, em busca de significados apropriados, de interpretações acuradas, tanto quanto tem se exaurido na produção de significantes que possibilitem construir explicações ontológicas para o universo, este sim, sempre atual, atuante e efetivamente mais rápido e eficaz que a mente humana, na elaboração de efeitos psico-físicos, que talvez mais não sejam que um reflexo de si mesmo. O mundo fenomenológico parece estar aí simplesmente porque está aí; sem finalidade, sem razão de ser, sem objetivo específico, embora permita uma observação continuada por parte do homem, este fenômeno auto-nomeado observador, possuidor talvez de um espírito auto-consciente, possivelmente um observador continuamente observado. Quando a velocidade da luz é já ultrapassada dentro de um acelerador de partículas, continuamos a submeter a consciência humana a recorrentes considerações: haverá um movimento linear chamado tempo, um fluxo c

Complexo de Édipo - caso real

A GAROTA SARAIVA “Frustrar alguém no amor é a mais terrível decepção; é uma perda eterna para a qual não há compensação na vida ou na eternidade.” (Kierkegaard) Lembro-me do dente colocado embaixo do travesseiro. Ouço ainda meu grito de alegria ao encontrar a moeda que a fada azul deixou para mim no lugar daquele precioso dente de leite. “... com Deus me deito, com Deus me levanto...” Conta minha mãe que papai encantou-se tanto com o meu nascimento que escolheu para mim um nome de rainha e, no dia exato em que nasci, 12 de outubro, dia da criança, comprou o mais lindo enxoval cor-de-rosa e inundou o quarto do hospital com laços, rendas e fitas e muitos sorrisos de felicidade pela chegada da filha primogênita. Minha mãe também sempre dizia: “Nem parecia o mesmo homem que, ao saber da gravidez, encheu-se de ira, rejeitou a mim e a criança. Era sempre assim, não podia me ver grávida que mudava da água para o vinho.” Dois anos após o meu nascimento nasceu outro

SÍNDROME DO PÂNICO - O mito se mostra verdadeiro quando você experimenta a transformação.

O Mito Há várias versões para o mito do deus grego Pan. Segundo uma delas, o deus Pan é filho de Zeus com sua ama de leite, a cabra Amaltéia. Pan é um deus de forte libido, primitivo e natural. Tem torso e cabeça humanos; pernas, chifres e orelhas de bode. Deus fálico, mas também músico sensível, galanteador, seduzia as ninfas dos bosques, não pela beleza, que não a tinha, mas com belas palavras e boa música. Pan, na mitologia grega, é o deus dos bosques, dos rebanhos e dos pastores. Morava em grutas e passava os dias correndo atrás das ninfas. Os pastores se assustavam com os ruídos provocados por ele e com a sua figura assustadora; daí o nome pânico para medo súbito e imotivado, uma vez que Pan não causava dano algum aos pastores ou aos viajantes que costumavam atravessar a floresta. A palavra pânico deriva desse deus, metade homem, metade bode, porque causava, com sua correrias, medo repentino (irracional) naqueles que precisavam adentrar seu território. Pan quer

Porta D'água - Poemas e fragmentos do livro NUA

Panta Rei - (tudo flui) Depois que a gente vive um bocadinho Aprende lento, bem devagarinho Quanta surpresa rude a vida traz Descobre entre a alegria e o devaneio Decepções que vêm se fazer meio De nos doer na alma e nos roubar a paz Depois que a gente vê e vive o sofrimento A gente cresce e vê o mundo diferente Como se fora a partir de tal momento Um outro mundo E neste mundo Uma outra gente.