Pânico 2 - palavras de um neurótico bem humorado

Nesta época atendi a todas as prescrições médicas, como você, leitor, caso tenha vivido essa experiência, deve também ter atendido.

O caso é que os eventos do transtorno do pânico voltaram a ocorrer repetidamente, fazendo da minha vida um inferno ... e este não preciso descrever porque aquele que sofre de fobias sabe perfeitamente a dor que sente e a que mudanças drásticas se submete a partir da ocorrência do primeiro transtorno, no intento de controlar eventos recorrentes.

Inúmeras restrições são incorporadas à sua rotina. Na verdade, as exceções viram rotina.

Lugares a que se deixa de ir, por serem muito abertos ou muito fechados: cinemas, teatros, parques, praças públicas, estacionamentos...

Nada de túneis, elevadores ou escadarias . Ficar sozinho, nem pensar. É preciso ter alguém sempre por perto para o caso de precisar de ajuda. Com a intenção de se sentir resguardado, o fóbico elege um amigo ou parente para seu acompanhante nas saídas impreteríveis, passando a manipular a dinâmica familiar por meio de suas necessidades (?) especiais, submetendo os mais próximos a uma incorporação mimética dos seus comportamentos extravagantes.

As construções do imaginário fluem aos borbotões e os temores mais esdrúxulos pipocam por todo lado: medo da mínima possibilidade de ser mortalmente infectado por vírus e bactérias, de vir a ser picado por ofídios e insetos peçonhentos, de ser atacado e mordido por algum cão ou até mesmo de ser atacado por um leão em pleno centro da cidade.

Medo da remota possibilidade de ser seqüestrado e, pior, medo de ter algum ente querido envolvido em alguma tragédia. Medo, medo, medo. O fóbico é, antes de tudo, um ser humano vulnerável até a medula, incapaz de pensar e de sentir construtivamente. Ao seu redor, tudo parece incerto e perigoso.

Chuvas, raios, temporais, ciclones e tsunamis passam a justificar a evitação de viagens de férias em praias, no campo, nas montanhas.Também parecerá prudente evitar viagens de trem, navio, avião, ônibus, carro ou bicicleta. Festas e reuniões, depende de onde e de quantas e quais pessoas vão estar lá. Ficar próximo à porta, nesses casos, é de bom alvitre. Nada mais adequado ao fóbico do que uma boa rota de fuga. Na hora em que quiser ir embora (escapar?) já estará com um pé na estrada ....

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