O Mito Vazio: o homem em busca da onipotência

Acredito que em nossos dias não há pessoa que não tenha ainda experimentado um certo vazio, um sentimento de inadequação, de falta de sentido ou propósito para a própria vida.

Esta é uma sensação doída de não viver, de apenas reagir aos estímulos do dia a dia. É então que facilmente nos deixamos seduzir pela deusa Vanitas, quando ela se põe a ciciar docemente em nossos ouvidos e a nos açular de forma diabólica:

"Mais que o gênio da lãmpada, posso oferecer-lhe a satisfação de todos os seus desejos."

Parece-nos proposta suficiente para que saiamos correndo atrás da própria sombra, em busca da felicidade, essa felicidade que "está apenas onde a pomos e nunca a pomos onde nós estamos" (poeta Vicente de Carvalho).

O objetivo de Prometeu, oferecendo ao homem a tecnologia e o progresso, parece ter se desvirtuado, uma vez que o homem civilizado vem dedicando-se à paradoxal construção de um genérico de si mesmo. E assim produz o mito vazio, a negação de si mesmo.

A elaboração do mito vazio é incoerente, ingênua até, pois anseia pelo status de arquétipo, não através da sedimentação lenta e progressiva nos campos do inconsciente coletivo, mas pela sua presença recorrente nos salões da ideologia.
A pretensa onipotência dos egos inflados só faz produzir alienação entre os homens e o esvaziamento dos seus valores.

O mito vazio é o mito da onipotência, mas o que faz é transformar os homens em balões de ensaio vazios e murchos. (continua)

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